quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

A Revolução dos Normalistas

O artigo (Cadernos de Pesquisa, 66, agosto 88), da antropóloga Mariza Corrêa (UNICAMP), trata da relação entre educadores e cientistas sociais organizadores em torno de uma rede estabalecida por Anísio Teixeira, a partir da década de 50. Segundo a autora, o bacharel, o normalista e o licenciado, tiveram importância na cena educacional brasileira, mas os grupo dos normalistas, representados por Anísio Teixeira é o que logrou maior influência na consolidação da tradição de pesquisa em ciências sociais.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Reflexões sobre Hegel

Por Jander dos Santos (Filosofia/UCDB)

Aventurar-se em Hegel é ir mais além, é entender o êxodo do séc. XVIII para o séc. XIX. A filósofa Marilena Chauí nos traz uma informação que parece ser bastante pertinente para o início desta reflexão, quando diz que Hegel declara que a filosofia moderna é o nascimento da filosofia propriamente dita porque nela, pela primeira vez, os filósofos afirmam que a filosofia é independente e não se submete a nenhuma autoridade que não seja a própria razão como faculdade plena de conhecimento. Isto é, os modernos são os primeiros a demonstrar que o conhecimento verdadeiro só pode nascer do trabalho interior realizado pela razão, graças a seu próprio esforço.
Alemanha está fragmentada pelo despotismo(caos político), e entender a Alemanha é entender o contemporâneo. A Itália e a Alemanha são os últimos a se unificar.
A unificação alemã foi feita pelo o Estado alemão mais autoritário. O chefe desse Estado era conhecido por Marechal de Ferro; foi uma autêntica revolução burguesa.
Nosso amigo Hegel dará ao Estado Prussiano um corpo (racional) teórico que resultará na unificação; ou seja, todo o capital necessário para justificar a autoridade.
Aparece a figura de H. Marcuse um intérprete de Hegel da segunda geração dos frankfurtianos que diz que não se pode associar Hegel ao Marxismo, pois é preciso organizar o Estado em bases racionalistas.
Para o jovem Hegel o filosofar é política, e política é filosofar. É importante entendermos que Hegel está dentro de um Estado onde não há liberdade, não há igualdade, escreve então a Fenomenologia do Espírito.
A concepção hegeliana neste momento pensa uma filosofia como atividade para organizar a pólis, isto é, pensar os problemas da pólis. Não há filosofia se não for prática.
A Fenomenologia do Espírito na primeira parte mostra uma Alemanha que não está unificada (feudal). O desenvolvimento dessa obra se dá em torno do problema de Estado.
Em pleno séc. XIX a Alemanha era servidão, mas propor um Estado governado pela razão, pode ter seu elemento emancipador e também dominador. O Estado Racional, é organizado e dominador. Hegel está numa pólis déspota, irracional, injusta, onde não são respeitados os direitos humanos. O Estado para Hegel deve ser ¨Razão¨. A história influenciou muito a filosofia contemporânea, até hoje temos visões da Filosofia herdada de Hegel.
Estamos em 1807, vamos nos deparar agora com um Hegel mais maduro, adulto que propõe uma reforma do método dialético, e essa novidade terá grandes implicações sobre a lógica. Nosso incansável e ousado filósofo consegue dar um status ontológico para a contradição, estamos falando da dialética hegeliana (oposição contraditória do ser /e não ser),Teoria do Conhecimento.
Dialética foi uma contribuição de Hegel, mas já vem desde da Grécia Antiga (Zenão). Enquanto que para Platão dialética é se elevar além do conhecimento sensível, nosso amigo vê isso como um pensamento ingênuo, e aqui se nota o porque da reforma do método dialético. A crença ingênua é de afirmar que a inteligência representa corretamente o real, mas Hegel é idealista, para ele é possível ir além da experiência.
O pensamento ingênuo é chamado também de consciência alienada, segundo Marcuse o homem é dominado pela riqueza em expansão de seu meio econômico, social e político, e vem a esquecer que seu livre desenvolvimento é a meta final de todas essas obras; em vez disso, rende-se a seu império. Os homens sempre procuram perpetuar uma cultura estabelecida; assim fazendo, perpetuam sua própria frustração.
Hegel bate de frente com as análises das três posições : empirismo, supre-sensível e a percepção da percepção. Constrói uma filosofia que pretende se apresentar como a própria expressão da realidade, eliminando a distinção tradicional entre a ideia e o real.
A lógica hegeliana vê a realidade como processo (movimento). Para Hegel a dialética é a teoria do conhecimento; ou seja teoria do real, um real localizado, situado. O real tem um principio e tem um fim. O processo dialético de Hegel se dá em três momentos:
Tese: (Abstração), consiste numa apreensão abstrata intelectiva
Antítese: (Negatividade), pelo exercício negativamente racional as coisas são seu oposto ao mesmo tempo em que se dissolvem nele. A negação antes de Hegel não era, mas nosso amigo dará ao não ser o status de ser, uma forma que encontrou para explicar a mutabilidade e transeuntibilidade.
O que é ----- não é
O que não ------- é
Síntese: (positivamente), concreto percebido pelo intelecto (alienação) singularidade.
É importante ressaltar que esses momentos não estão separados.
O empirismo parte de um princípio verdadeiro, porem nega a possibilidade de conhecer o sensível. Para Hegel a realidade não é só a experiência, pois ela se vê também limitada. Podemos dizer que nosso amigo não se contentou em ficar somente na “coisa”, mas ir além da coisa. Percebemos que a realidade nos revela e nos condensa um poder de nos fazer avançar os territórios da existência, de irmos além, foi o que Hegel buscou fazer.
Portanto, ao dizer “eu sou isso”, naturalmente estou dizendo também “que não sou aquilo que negaria o que sou”.Parece jogo de palavras, mas não é. Ao identificar que eu sou o Jander, naturalmente estou dizendo que não sou Neimar; ou seja em toda afirmação há sempre uma infinidade de negações latentes.
O tempo todo reivindicamos o que somos e também renunciamos o que não somos. Identidade estabelece limites, assim como os conceitos limitam a realidade. Limite que não pode ser considerado como negativo. Limitar é delimitar o local do encontro, favorecendo a compreensão da realidade existente;ou seja, um espaço delimitado é uma espaço encontrado, identificado.
Após a morte de Hegel, vemos uma divisão entre seus seguidores. De uma lado temos a direita hegeliana (Gentile e Croce), onde adotaram a tese política de que o Estado é a mais alta realização do espírito absoluto, e do outro a esquerda hegeliana (Teologia é Antropológica) Feuerbach, consideravam necessário desmascarar a teologia especulativa de Hegel.
Por fim Hegel contagiou à muitos, até mesmo o existencialismo e continua a afetar o pensamento contemporâneo, isso é tão expressivo que Merleau-Ponty afirmou: Existem vários Hegel, de tal modo que dar uma interpretação de seu pensamento é tomar partido sobre todos os problemas filosóficos, políticos e religiosos de nosso século.
O que pude absolver de Hegel, embora tenho consciência, do breve contato que tive com seu pensamento, é de que é possível discordar de algumas ideias , mas negá-las é impossível.