quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Cogito, ergo sum

Penso, logo sou. Penso, logo digo. Posso dizer, logo sou. Penso que ainda não sou. Penso modos para ser. Porque ainda não sou, penso.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Culturas Híbridas, Poderes Oblíquos

O capítulo 7 do livro Culturas Híbridas destaca que os gêneros impuros e desconsiderados das culturas populares como o grafite, histórias em quadrinhos e o videoclipe impõem cenários antes os quais as categorias clássicas baseadas nas oposições (subalterno/hegemônico, tradicional/moderno) desmoronam-se. De Acordo com Canclini (2008, p. 283), as "novas modalidades de organização da cultura, de hibridização das tradições de classe, etnicas e nações requerem outros instrumentos conceituais".

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Néstor Raúl García Canclini

O livro Culturas Híbridas, estratégias para entrar e sair da modernidade (2008), do antropólogo argentino Néstor Canclini, dedica-se a esclarecer o conceito de hibridização nas ciências sociais. Segundo o autor (p. XIX), hibridização trata de "processos socioculturais nos quais estruturas ou práticas discretas, que existiam de forma separada, se combinam para gerar novas estruturas, objetos e práticas". Essas estruturas discretas, por seu turno, também são resultado de processos híbridos, razão pela qual não podem ser consideradas fontes puras. O uso, mediante empréstimo da biologia, da palavra híbrido, apesar do risco em aplicar à sociedade e à cultura termo utilizado para tratar de outros fenômenos, foi proposital, pois, no século XIX, a hibridização era considerada com desconfiança e como ameaça ao desenvolvimento social (p. XXI). Por outro lado, Mendel, em 1870, mostrou que foi o cruzamento e diversificação genética que enriqueceram as espécies. Canclini parte, desse raciocínio botânico para interrogar as representações que tecemos a propósito da cultura.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Rafael Leónidas Trujillo

Rafael Leónidas Trujillo (1891 — 1961), foi mais um dos ditadores latino-americanos, apoiados pelos norte-americanos, na República Dominicana, entre 1939 e 1961. Controlou e dirigiu tiranicamente seu país até ser assassinado em 1961. Acumulou grande fortuna, como a família Somoza, da Nicarágua, e agiu com cruel repressão contra a oposição, além de ter mudado de nome a capital do país para Ciudad Trujillo. Em relação à Revolução Cubana...

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Operação Condor

Aliança político-militar das ditaduras militares da América do Sul, Brasil, Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai e Uruguai, criada com o objetivo de coordenar a repressão a opositores dessas ditaduras instalados nos seis países do Cone Sul. A operação começou em 1975, na cidade de Santiago do Chile, por iniciativa do coronel Manuel Contreras. Seu resultado foi a violação de direitos fundamentais mediante perseguições, prisões e morte de mais de 30 mil de cidadãos americanos em nome da segurança nacional. A operação de troca de informações tinha por modelo o serviço de inteligência brasileiro, à época dirigido por Figueiredo.

Escola das Américas

Polêmico centro de treinamento para futuros colaboradores, mantido pelos EUA, no Panamá, entre 1946 e 1984. A instituição foi financiada e viabilizada tendo em vista o contexto da Guerra Fria. Atualmente, a escola mudou de endereço e está localizada na Georgia, porém seu seu nome foi mudado para Western Hemisphere Institute for Security Cooperation (WHISC) — Instituto do Hemisfério Ocidental para a Cooperação em Segurança. Sua missão oficial é ministrar cursos sobre assuntos militares à oficiais de outros países, além de doutrinação ideológica. A escola formou mais de 60 mil militares e policiais de 23 países da América Latina, muitos envolvidos em operações ilegais, violação de direitos civis e torturas durante as ditaduras militares latino-americanas. Entre seus alunos, merecem destaque o general Leopoldo Galtieri, ex-ditador e brucutu da Argentina, Manuel Noriega, auto-proclamado general, agente da cia, envolvido com tráfico internacional de drogas e lavagem de dinheiro, além de ter governado o Panamá entre 1983 e 1989, Hugo Banzer, da Bolívia entre outros gentlemen.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Viva Zapata, ficha técnica

Sinopse: O filme Viva Zapata (1952) apresenta a vida e a época do lendário revolucionário mexicano Emiliano Zapata são trazidas às telas por Darryl F. Zanuck, em audaciosa produção do roteiro de John Steinbeck. Marlon Brando, ainda na onda do seu grande sucesso Uma Rua Chamada Pecado, apresenta uma impressionante interpretação no papel do líder revolucionário. O filme também conta com Anthony Quinn, que ganhou o Oscar® de Melhor Ator Coadjuvante em 1952 por sua atuação como o irmão de Zapata. Viva Zapata! é um clássico entre os filmes políticos e um ótimo exemplo da genialidade de Marlon Brando como ator de cinema.
Título no Brasil: Viva Zapata!
Título Original: Viva Zapata!
País de Origem: EUA
Gênero: Drama
Classificação etária: 16 anos
Tempo de Duração: 113 minutos
Ano de Lançamento: 1952
Estúdio/Distrib.: Fox Filmes
Direção: Elia Kazan
Elenco:
Marlon Brando ... Emiliano Zapata
Jean Peters ... Josefa Zapata
Anthony Quinn ... Eufemio Zapata
Joseph Wiseman ... Fernando Aguirre
Arnold Moss ... Don Nacio
Alan Reed ... Pancho Villa
Margo ... Soldadera
Harold Gordon ... Francisco Indalecio Madero
Lou Gilbert ... Pablo
Frank Silvera ... Victoriano Huerta
Florenz Ames ... Señor Espejo
Richard Garrick ... Old General
Fay Roope ... President Porfirio Diaz
Mildred Dunnock ... Señora Espejo
Ross Bagdasarian ... Officer
Salvador Baguez ... Soldier
Abner Biberman ... Captain

domingo, 6 de junho de 2010

Danton

Por Fabio dos Santos, acadêmico de História/UCDB
O filme “Danton” retratou o período da Revolução Francesa mediante a apresentação épica de um herói. A França, de acordo com Eric Hobsbawm, era uma das maiores potências econômicas da Europa, mas, na verdade, o país passava por uma grave crise na economia. Milhares de pessoas passavam por dificuldades e o descontentamento era geral. O luxo da corte alimentava o ódio do povo, que tinha como aliado Danton, a situação exigia decisões firmes, por parte do governo.
O filme apresentou dois personagens principais, Robespierre e Danton. Ambos influenciaram consideravelmente todo o processo da Revolução. Robespierre dirigia o Comitê de Salvação Pública, depois de afastar Danton, período esse conhecido como o governo de terror, derrotou vários de seus inimigos com violência, alegando serem os inimigos da França, consolidando assim a Revolução. Embora Danton tivesse participado do início da criação do regime do Terror, achava que a violência tinha ido longe demais. Foi julgado e executado por ordem de Robespierre, líder dos jacobinos, facção revolucionária radical, porém, também foi guilhotinado por ordem dos moderados, que tomaram o poder e controlaram o curso da Revolução.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Romero (1989)

O filme Romero, seria mais uma bela produção cinematográfica, se a história de 60 mil salvadorenhos, vítimas do imperialismo, do progresso e da Soutrina de Segurança Nacional, não fosse real. D. Oscar Romero, o arcebispo de San Salvador, levantou a voz e clamou: Não matarás! Escreveu cartas ao presidente dos Estados Unidos pedindo que interrompesse o envio armas a El Salvador que estavam sendo usadas para matar os mais pobres. Pediu que os militares não cumprissem ordens que violassem os direitos humanos e as leis de Deus. A resposta foi seu assassinato durante a missa em 24 de março de 1980.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Teologia da arte

Ocorreu ontem (19), no auditório do Centro de Convenções José Otávio Guizzo, o lançamento do livro Teologia da Arte, durante a Semana de Atualização Teológica da Fathel, Faculdade Teológica. O livro, surpreendentemente moderno, do prof. Dr. Carlos Eduardo Calvani, especialista em Teologia e MPB, dialoga com o mundo da cultura a partir da perspectiva dos Estudos Culturais, do existencialismo e de uma ótica da imanência com base na teologia de Paul Tillich, porém vai além desse teólogo, com relação à cultura. Minha primeira conclusão sobre a obra pode ser assim resumida: ao olhar para esta especialidade teológica, vi a sociedade em suas contradições e ambiguidades interculturais. Vale a pena!
Referência completa: CALVANI, Carlos Eduardo. Teologia da Arte. São Paulo: Fonte editorial/Paulinas, 2010.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Robespierre visita o Curso de História

Recentemente, Maximilien de Robespierre visitou, indignado, o curso de história da UCDB, para defender-se diante das acusações injustas do filme Danton, uma conspiração desastrosa dos girondinos, em sua opinião. Durante seu discurso, proferido aos alunos, alegou que foi graças aos 14 meses e 17 mil mortos de terrorismo jacobino que a França foi salva. De acordo com empertigado revolucionário as medidas do governo do diretório eram perfeitamente aceitáveis, pois àquele tempo, os franceses não tinham muitas opções diante da invasão do território por príncipes alemães, pela Inglaterra, falência financeira e revolta de 60 dos 80 departamentos contra Paris, além da ameaça de perda do apoio dos sansculottes. Era o terrorismo contra os inimigos da Revolução, ou o fim do país. Terminou seu emocionado discurso alegando inocência diante da acusação pela morte de Danton e que o historiador deve desconfiar, como investigador, sempre das primeiras impressões, especialmente das cinematográficas.

terça-feira, 11 de maio de 2010

As Contradições da Modernidade

A modernidade, como bem sabemos, consiste na crença no traçado racional do mundo e na capacidade da razão para desvendá-lo. Agindo desse modo, segundo crença iluminista, a humanidade, livre dos obscurantismos, viveria uma era de progresso. Ao contrário, vimos a razão instrumentalizada e os sonhos dos iluministas destroçados pela burguesia vitoriosa pós-revolução francesa de acordo com a opinião de Luiz Roberto Salinas Fortes. Haverá uma esperança de racionalidade para o pensamento ocidental?

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Martinho Lutero

O filme épico Lutero apresenta uma representação da personagem Martinho Lutero como homem moderno, chocado com a corrupção de seu tempo e angustiado pela própria salvação. Lutero (1483-1546), monge agostiniano, era depositário de um pensamento influenciado por São Paulo, Agostinho e Erasmo de Roterdã. De São Paulo, veio a idéia de que somente a fé em Deus assegurava a graça divina e a salvação do homem. Para ele, Deus é soberano, logo o homem não é livre. Deus concede a graça de crer em Cristo e a quem ele recusa esta graça, cai em danação. Tal destino foi fixado por Deus por toda a eternidade. A venda de indulgência ordenada pelo Papa Leão X, desejando soerguer as finanças pontificais a fim de concluir a construção da basílica de São Pedro provocou a reação de Lutero com suas 95 teses condenando estas práticas em 1517. O terreno fértil de sua pregação foi o Sacro Império Romano-Germânico onde a religiosidade era intensa e fora fortalecida com o Humanismo ali voltado para o estudo de textos sagrados antigos e pela discussão de temas religiosos. Vamos ao debate...

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Danton, o processo da revolução

O Filme Danton, de 1983, expressa uma versão oficial, com ênfase na história política, da Revolução Francesa (1789-1799) mediante a representação estereotipada da figura do herói Georges Jacques Danton caracterizado como justo condenado pela tirania do Comitê de Salvação Pública sob a liderança de seu antagonista Maximilien de Robespierre. Fazer novas perguntas a velhos documentos é um dos ofícios do historiador. Espero, neste espaço virtual e democrático, suas perguntas em torno deste documento midiático sobre a Revolução Francesa.

sábado, 24 de abril de 2010

Michel de Montaigne e os índios

Em 1580, o filósofo cético francês de Bordeaux, publicou uma obra que inaugurou um estilo conhecido como ensaio pessoal. Nesse livro, escreveu sobre a destruição da América e de seus habitantes, os índios, pelos colonizadores espanhóis. No capítulo XXXI, intitulado Os Canibais, escreveu sobre os índios e a falsa impressão de que são selvagens em sues costumes em comparação com os europeus. Comecemos o debate...

terça-feira, 6 de abril de 2010

A Revolução Mexicana

Apontamentos de Tiago Alexandre, acadêmico de HIstória, UCDB.

Referência: VILLA, Marco Antonio. A revolução mexicana. Editora Ática: São Paulo, 1993.

1 – Qual a justificativa de Villa (1993) para o período de 1910 – 1940 ao tratar de Revolução Mexicana?
Segundo o autor, em 1910 Francisco Madero lidera a derrubada armada ditadura de Porfírio Diaz e destaca as realizações de Lázaro Cárdenas em 1940 promovendo varias reformas sócio-econômicas no estado mexicano.

2 – De que modo o problema agrário ganhou relevância na história do México e como foi intensificado durante o porfiriato?
Desde o período colonial o México apresentava problemas nas distribuições de terras
e a independência teve como pano de fundo a questão agrária. Porfírio Diaz em seu governo, numa tentativa de criar um capitalismo nacional com investimentos estrangeiros, o processo de expropriação das terras dos camponeses e indígenas se acelerou.

3 – Explique o que foi o plano Ayala e qual a sua relação com o governo Madero?
O Plano de Ayala foi uma proposta de Emiliano Zapata que constituía uma reação, com a finalidade de derrubar o governo de Francisco Madero, pois esse não atendeu as exigências de reforma agrária propostas pelos guerrilheiros, por causa disso, foi declarado traidor e aliado dos latifundiários, não sendo reconhecido mais como presidente da República. Dentre as reivindicações do plano estavam: a devolução das terras roubadas pelos latifundiários aos camponeses e indígenas, a expropriação de 1/3 das terras dos grandes fazendeiros e a nacionalização dos bens dos contra-revolucionários.

4 – Qual a relação da Constituição de 1917 para as reivindicações da Revolução Mexicana?
A Constituição de 1917 iniciou um processo de enfrentamento, pelo menos aparente, das questões sociais do México, no seu conteúdo havia itens que diziam que a Nação pode impor à propriedade privada as modalidades ditadas pelo interesse público, visando uma redistribuição equitativa da riqueza pública. Reconhece o direito de as comunidades solicitarem terras de acordo com as suas necessidades. Contempla o proletariado com uma jornada máxima de trabalho, descanso semanal, salário mínimo, participação nos lucros, direito de greve, de manifestação, entre outros direitos.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Questões Iluminismo

Por Fabio dos Santos, acadêmico de história UCDB.

Questões referentes ao livro: FORTES, Luiz Roberto Salinas. O iluminismo e os reis filósofos. Editora Brasiliense: São Paulo, 1985. (Coleção tudo é história).

1. Aponte o legado iluminista à modernidade na opinião de Luiz Roberto Salinas Fortes.
R: O legado iluminista foi Os Direitos do Homem e do Cidadão, porém, o fato da existência dos direitos não significava que eles eram cumpridos. Existiu a divisão dos três poderes (executivo, legislativo e judiciário), pautados num racionalismo contrário à igreja católica.

2. Reflita sobre o contexto transicional que deu origem ao iluminismo e a composição entre nobreza e igreja com base nas informações de Luiz Roberto Salinas Fortes (1985, p. 15).
R: O contexto transicional do feudalismo para o capitalismo foi permeado por um impulso de numerosos conflitos, no feudalismo a igreja católica e a nobreza viviam em em uma perfeita simbiose. Com as transformações sócio-econômicas, políticas e culturais do século XV, a figura do senhor feudal foi sendo substituída gradativamente pela figura do burguês e a igreja católica foi perdendo força e influência. O iluminismo apareceu com uma idéia de liberdade para a razão, e severas críticas à tradição religiosa, o que leva a Igreja a passar por crise profunda.

3. Explique como Montesquieu, um nobre, contribui para a consolidação do estado moderno e a sua relação com a burguesia (FORTES, 1985, p. 30 ss).
R: Montesquieu defende que as leis não são fruto do arbítrio do legislador, elas refletem a complexa realidade de um povo e as suas reais necessidades, considerando a totalidade da vida desse povo. Para burguesia, a maior necessidade da época era a segurança de seus negócios, tanto jurídica, como institucional.

4. Defina lei, com base em Montesquieu e esclareça como este conceito expressa uma necessidade da burguesia em relação ao estado moderno.
R: Segundo Montesquieu “As leis são as relações necessárias que derivam da natureza das coisas.” Tudo o que existe é regido pelas leis naturais, por tanto, o homem não pode ser diferente. Os homens instituem deliberadamente regras para poderem viver em sociedade, “as leis positivas”, são ou pelo menos devem ser, expressão das relações necessárias para serem percebidas na vida dos povos, condição para viverem em sociedade. Montesquieu não entra no mérito se as leis são ou não justas, elas são adequadas ou não a um determinado povo, devendo ser “neutras” e regidas pelo governo apropriado, na sua preferência (mentalidade burguesa) a aristocracia moderada (monarquia constitucional), onde o monarca obedeça a leis fixas (a segurança jurídica da burguesia deve ser preservada).

5. Voltaire, pensador iluminista, expressa uma mentalidade de um tempo. Quais seus ideais?
R: Sua paixão está voltada para o livre exercício da razão. Voltaire defendia a idéia de oposição à igreja católica, a tradição religiosa e a autoridade política que serão os dois alvos fundamentais dos seus ataques. Contesta, evidentemente, a autoridade absoluta dos papas e prega a tolerância religiosa e o pragmatismo. Condena assim o fanatismo e o preconceito religioso. Também se botava a favor da proteção à liberdade e à propriedade privada, defensor do despotismo esclarecido, valorizava o padrão erudito, acreditava no desenvolvimento da raça humana até chegar ao nível de “civilização” com a superação das superstições e o triunfo das luzes da razão. Defende o imaginário burguês: sua política lutava por reformas administrativas e civis.

6. Qual a relação da enciclopédia com o iluminismo? (FORTES, 1985, p. 46 ss).
R: O grande projeto do iluminismo é a enciclopédia, que pode ser considerado projeto burguês iluminista, que objetivava reunir para conservar o controle da burguesia, um projeto comercial, os burgueses queriam ordenar o conhecimento, queriam estabelecer quem poderia saber, controlar o saber.


7. Luiz Roberto Salinas Fortes (1985, p. 63) acrescenta no rol dos iluministas o economista escocês Adam Smith. Esse autor é iluminista?
R: O legado de Adam Smith é a criação de uma nova ciência, e tudo que é novo está sujeito a críticas, Kal Marx critica a economia política de Adam Smith o que resulta numa grande revolução teórica, Smith que defende a idéia de que o estado deve estar a serviço da economia política. O papel do governo dentro da teoria de Adam Smith se resumiria em 4 objetivos: o primeiro promover a justiça e o direito a propriedade; O segundo promover os serviços de utilidade pública como limpeza, segurança pública e barateza das provisões, tendo para este último maior relevância. O terceiro objetivo de manter a fartura e abundancia de mercadorias no país garantiria a barateza das mercadorias de todos os gêneros, dado que Smith considera que o preço destas mercadorias são determinados pela sua abundância que é sinônimo de barateza. O governo deveria garantir a abundância para assegurar a barateza das mercadorias. Com relação a questão da produtividade do trabalho, ao contrário dos fisiocratas que atribuíam a terra, Smith ofereceu explicação da produtividade crescente da sociedade estaria ligada a divisão do trabalho.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Atividade de Lidiane Cabral Edvirges

Questões referentes ao livro: FORTES, Luiz Roberto Salinas. O iluminismo e os reis filósofos. Editora Brasiliense: São Paulo, 1985. (Coleção tudo é história).

1. Aponte o legado iluminista à modernidade na opinião de Luiz Roberto Salinas Fortes.
R: que o legado do iluminismo foi a declaração universal dos direitos do homem e do cidadão, ainda cita que antes disso era como se o homem não existisse, burguesia, individualismo, imaginário. Os direitos humanos defendidos pelo iluminismo surgem de um conceito de Estado laico, independente da religião ou classe social.
A sua herança foram Os Direitos do Homem e do Cidadão contemplando os direitos individuais (mentalidade individualista), a assembléia constituinte, o fato de que existência dos direitos não significa que eles sejam cumpridos, divisão dos três poderes (executivo, legislativo e judiciário), um racionalismo contrário à igreja católica.

2. Reflita sobre o contexto transicional que deu origem ao iluminismo e a composição entre nobreza e igreja com base nas informações de Luiz Roberto Salinas Fortes (1985, p. 15).
O contexto é a transição do feudalismo para o capitalismo, no feudalismo a igreja católica e a nobreza viviam em simbiose, como diz o autor. Com as transformações sócio-econômicas, políticas e culturais do século XV, a figura do senhor feudal foi sendo substituída gradativamente pela figura do burguês e a igreja foi perdendo força e influência.

3. Explique como Montesquieu, um nobre, contribui para a consolidação do estado moderno e a sua relação com a burguesia (FORTES, 1985, p. 30 ss).
Montesquieu defende que as leis não são fruto da vontade única do legislador, elas refletem a necessidade e a realidade de um povo. No contexto específico representava a necessidade da burguesia na época, buscando um ambientes melhor para os seus negócios: a segurança jurídica e institucional fundamentada na idéia desse pensador.

4. Defina lei, com base em Montesquieu e esclareça como este conceito expressa uma necessidade da burguesia em relação ao estado moderno.
“As leis são as relações necessárias que derivam da natureza das coisas.” Tudo o que existe é regido pelas leis naturais, por tanto, o homem não pode ser diferente. Os homens instituem regras para poderem viver em sociedade, “as leis positivas”, expressando as relações necessárias para serem percebidas na vida dos povos e esses viverem em grupo. Montesquieu não se pergunta se as leis são ou não são justas, elas são adequadas ou não a um determinado povo, devendo ser “neutras” e regidas pelo governo apropriado, na sua preferência a aristocracia moderada (monarquia constitucional), onde o monarca obedeça a leis fixas (a segurança jurídica da burguesia deve ser preservada).


5. Voltaire, pensador iluminista, expressa uma mentalidade de um tempo. Quais seus ideais?
Voltaire expressava em seu pensamento a oposição à igreja católica, o anticlericalismo, o racionalismo, o experimentalismo (crença no saber científico), a influência dos autores gregos clássicos, oposição à intolerância religiosa e o pragmatismo. Também se botava a favor da proteção à liberdade e à propriedade privada, defensor do despotismo esclarecido, valorizava o padrão erudito, acreditava no desenvolvimento da raça humana até chegar ao nível de “civilização” com a superação das superstições e o triunfo das luzes da razão.

6. Qual a relação da enciclopédia com o iluminismo? (FORTES, 1985, p. 46 ss).
A obra fundamental do iluminismo francês e europeu, em geral, é a Enciclopédia: Enciclopédie ou dictionaire des sciences, des arts et des métiers. Foi publicada entre 1751 e 1780, em 34 volumes. Foi dirigida por João D'Alembert (1717-1783), autor do famoso Discours préliminaire, e por Denis Diderot(1713-1784) autor também de alguns escritos filosóficos - Pensées sur l'interprétation de la nature (1754), etc. Entretanto colaboraram na enciclopédia os iluministas mais famosos, chamados por isso enciclopedistas. Entre eles Voltaire e Rosseau. O movimento dos enciclopedistas foi um poderoso meio para a difusão e vulgarização das idéias iluministas, na França e no estrangeiro.

7. Luiz Roberto Salinas Fortes (1985, p. 63) acrescenta no rol dos iluministas o economista escocês Adam Smith. Esse autor é iluminista?
O autor considera o economista escocês Adam Smith como iluminista por este ter sido o responsável pelo balbuciar de uma nova ciência, a Economia Política, destinada a causar uma grande revolução teórica quando submetida à crítica de Karl Marx. É um libera iluminista.

Atividade de José Bonifácio Alves da Silva

Perguntas baseadas no texto: VILLA, Marco Antonio. A revolução mexicana. Editora Ática: São Paulo, 1993. (Série Princípios).

1 – Qual a justificativa de Villa (1993) para o período de 1910 – 1940 ao tratar de Revolução Mexicana?
A justificativa dada pelo autor, fundamentada numa analise política do período, é que em 1910 houve o chamamento de Francisco Madero à derrubada armada da ditadura de Porfírio Díaz. Destaca também 1940 quando Lázaro Cárdenas conclui o mandato com a realização de várias reformas mudando o perfil sócio-econômico do estado mexicano.

2 – De que modo o problema agrário ganhou relevância na história do México e como foi intensificado durante o porfiriato?
O problema agrário esteve presente no México desde a época colonial, a própria independência teve como pano de fundo a questão agrária. Durante a ditadura de Porfírio Díaz, numa tentativa de criar um capitalismo nacional com investimentos estrangeiros, o processo de expropriação das terras dos camponeses e indígenas se acelerou.

3 – Explique o que foi o plano Ayala e qual a sua relação com o governo Madero?
O Plano de Ayala foi uma proposta de Emiliano Zapata que constituía uma reação, com a finalidade de derrubar o governo de Francisco Madero, pois esse não atendeu as exigências de reforma agrária propostas pelos guerrilheiros, por causa disso, foi declarado traidor e aliado dos latifundiários, não sendo reconhecido mais como presidente da República. Dentre as reivindicações do plano estavam: a devolução das terras roubadas pelos latifundiários aos camponeses e indígenas, a expropriação de 1/3 das terras dos grandes fazendeiros e a nacionalização dos bens dos contra-revolucionários.

4 – Qual a relação da Constituição de 1917 para as reivindicações da Revolução Mexicana?
A Constituição de 1917 iniciou um processo de enfrentamento, pelo menos aparente, das questões sociais do México, no seu conteúdo havia itens que diziam que a Nação pode impor à propriedade privada as modalidades ditadas pelo interesse público, visando uma redistribuição equitativa da riqueza pública. Reconhece o direito de as comunidades solicitarem terras de acordo com as suas necessidades. Contempla o proletariado com uma jornada máxima de trabalho, descanso semanal, salário mínimo, participação nos lucros, direito de greve, de manifestação, entre outros direitos.

Atividade Hélio Maciel dos Santos Júnior

Questões baseadas no texto: VILLA, Marco Antonio. A revolução mexicana. Editora Ática: São Paulo, 1993.
1. Qual a justificativa de Villa (1993) para o período de 1910 – 1940 ao tratar de Revolução Mexicana?
R. A justificativa do autor se fundamenta na análise política do período que vai desde 1910, quando houve o chamamento de Francisco Madero à derrubada armada da ditadura de Porfírio Diaz, até 1940 quando Lázaro Cárdenas conclui o mandato com a realização de várias reformas mudando o perfil sócio-econômico do estado mexicano e construiu as principais características desse estado.
2. De que modo o problema agrário ganhou relevância na história do México e como foi intensificado durante o porfiriato?
R. O problema agrário no México remonta desde a época colonial, a própria independência teve como pano de fundo a questão agrária. Durante a ditadura de Porfírio Díaz, a tentativa de criar um capitalismo nacional com investimentos estrangeiros, culminou na aceleração do processo de expropriação das terras dos camponeses e indígenas.
3. Explique o que foi o plano Ayala e qual a sua relação com o governo Madero?
R. foi uma proposta de Emiliano Zapata que constituía em derrubar o governo de Francisco Madero, que foi declarado traidor e aliado dos latifundiários, não sendo reconhecido mais como presidente da República.
4. Qual a relação da Constituição de 1917 para as reivindicações da Revolução Mexicana?
R. No seu conteúdo havia itens que diziam que a Nação pode impor à propriedade privada as modalidades ditadas pelo interesse público, visando uma redistribuição equitativa da riqueza pública. Reconhece o direito de as comunidades solicitarem terras de acordo com as suas necessidades. Contempla o proletariado com uma jornada máxima de trabalho, descanso semanal, salário mínimo, participação nos lucros, direito de greve, de manifestação, entre outros direitos.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Jorge Castañeda Concede Entrevista para Unisinos sobre Honduras

Caros pupilos, segue abaixo a antrevista do cientista político mexicano, professor da Universidade de Nova York: 
*27/9/2009* Gigante ou anão diplomático? Entrevista com Jorge Castañeda*
 
Um ex-chanceler e intelectual público disposto a especular - abertamente 
- sobre deslizes de funcionários estrangeiros e potenciais 
interlocutores? Para quem ainda pensa em concorrer à presidência do 
México, a franqueza de *Jorge Castañeda* demonstra pouca preocupação com 
calos alheios. Em duas conversas que formam esta entrevista, o autor de 
livros sobre a história política da América Latina, incluindo biografia 
de *Che Guevara*, repete pacientemente suas ideias sobre o cenário 
instalado a partir da chegada de um hóspede bem trapalhão à embaixada do 
Brasil na cidade de Tegucigalpa, dias atrás.
 
A reportagem e a entrevista é de *Lúcia Guimarães* e publicada pelo 
jornal *O Estado de S. Paulo*, 27-09-2009.
 
"Como é mesmo o nome do número 2 do Itamaraty?", pergunta. "O senhor 
está se referindo a *Samuel Pinheiro Guimarães*?", devolve a repórter. 
"Sim, ele é bem capaz de ter cumplicidade num episódio como esse, agindo 
na ausência do embaixador brasileiro... Isso é especulação." Procurado, 
*Pinheiro Guimarães *preferiu não polemizar com o mexicano. Mas 
*Castañeda* absolve o *presidente Lula* e o chanceler *Celso Amorim* de 
envolvimento no episódio que marca a volta a Honduras do presidente 
deposto, *Manuel Zelaya*: "Isso é coisa de república de banana."
 
Assim sintetiza a crise hondurenha o encarregado da política externa 
mexicana entre 2000 e 2003, ainda bastante surpreso com a movimentação 
de venezuelanos, cubanos, nicaraguenses e militantes salvadorenhos da 
*FMLN*, que identifica como "babás de Manuel Zelaya", possivelmente 
despachado por essa turma para a representação brasileira. E antes que 
alguém lance pedras em *Hugo Chávez*, *Castañeda* oferece uma palavra de 
cautela: afirma que o serviço de inteligência venezuelano nunca foi 
acusado, por exemplo, de ter a competência do *Mossad* israelense. 
Portanto, arrisca outro palpite, de novo sem meias palavras: diz que o 
imbróglio de Tegucigalpa tem a marca inconfundível de Cuba. E mais: acha 
que ditador deposto de país pequeno deveria procurar sua turma e deixar 
um gigante regional, como o Brasil, em paz. Ao falar em gigante 
geográfico, atalha com outra crítica. Diz que o Brasil se comporta como 
anão diplomático. Ou seja, terá que abrir mão do "chopinho" com 
*Chávez*, *Castro*, *Ortega* e da aversão a tomar posições firmes se 
quiser ser admitido no banquete dos poderes internacionais.
 
Na sexta-feira, enquanto policiais jogavam bombas de gás contra a 
embaixada brasileira e o Conselho de Segurança da ONU pedia o fim do 
cerco policial ao local, *Jorge Castañeda* desfazia malas em Manhattan 
para enfrentar o começo do semestre como professor de ciência política 
da Universidade de Nova York.
 
*Eis a entrevista.*
 
*Como o senhor avalia a situação em Tegucigalpa?*
 
Entendo que o Brasil não se envolveu na operação, que foi organizada por 
venezuelanos, cubanos, nicaraguenses e a *FMLN* de El Salvador. Um avião 
venezuelano pousou com *Zelaya* em Ilopango, El Salvador. Queriam 
levá-lo para a representação da ONU em Tegucigalpa. Mas como *Chávez* 
não consegue ficar calado, o público foi alertado, rodeou a missão e lá 
se foram com *Zelaya* para a embaixada brasileira. Sei que telefonaram 
para *Celso Amorim*, e o que ele podia fazer? Não teve escolha a não ser 
dizer sim. Mas é o tipo de coisa de que o Brasil não gosta - esse clima 
de faroeste em diplomacia. A operação, com os detalhes sabidos até 
agora, vai contra tudo que conhecemos sobre o comportamento do Itamaraty.
 
*No começo do incidente, o senhor especulou se o secretário-geral do 
Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães, não teria conhecimento prévio do 
plano. Por quê?*
 
Sim, quando soube que o embaixador titular em Tegucigalpa não estava 
presente, apenas o encarregado de negócios. Porque é o tipo de coisa de 
que *Samuel* é capaz. Mas foi pura especulação. Não consigo acreditar 
que *Lula* ou *Celso Amorim*, sempre responsáveis e comedidos em sua 
conduta em política externa, tivessem participado da conspiração - 
porque ela coloca o Brasil numa situação delicada. Se *Micheletti* 
decidir, pode chegar e dizer: "Nós respeitamos a inviolabilidade da 
embaixada brasileira e assim damos salvo-conduto para *Zelaya* ir ao 
aeroporto e se asilar ". E, assim, o Brasil teria que ficar com *Zelaya*.
 
*Por que o senhor considera a posição do Brasil embaraçosa?*
 
Porque coloca sobre o Brasil a responsabilidade de corrigir um 
precedente perigoso. Não se pode fomentar uma insurreição política de 
dentro de uma embaixada. Estamos brincando com fogo aqui. Ao longo dos 
anos, milhares de latino-americanos salvaram suas vidas lançando mão do 
direito ao asilo político. Nós (mexicanos) abrigamos o presidente 
*Héctor Cámpora* na nossa embaixada em Buenos Aires e o drama se 
estendeu por mais de dois anos. Ele queria sair e o governo argentino 
não dava o salvo-conduto. No final, ele saiu por motivos humanitários, 
sofrendo com um tumor até morrer, no México, em 1980. A distinção entre 
o perseguido político e pessoas que estão fugindo da Justiça por motivos 
não políticos é fundamental. O princípio do asilo tem que ser preservado.
 
*O senhor escreveu, no começo da crise, que era importante levar em 
conta as condições do golpe.*
 
É, por definição, um golpe e deveria mesmo ter sido denunciado. Mas é um 
golpe em que os civis mantêm controle sobre as Forças Armadas e o 
calendário eleitoral intacto. O governo de facto é apoiado pelas 
principais instituições do país. Não houve prisões em massa ou tortura. 
Houve violações de direitos humanos nos protestos de rua, isso é 
deplorável e deve ser investigado. Mas é preciso deixar claro que não 
estamos falando do estádio de futebol de Santiago, nem de uma campanha 
sistemática de perseguição.
 
*Como o senhor observou essa ironia de um episódio que coloca os 
governos Obama e Chávez no mesmo campo, já que ambos condenaram a 
deposição de Zelaya?*
 
O governo dos EUA tem o coração no lugar certo e a mente em lugar 
nenhum. Mas não quer ser visto como cúmplice de um golpe. *Barack Obama* 
e *Hillary Clinton* estão cientes do envolvimento americano em episódios 
horríveis ao longo dos anos. Só acho que não elaboraram o quadro de 
maneira satisfatória, não só por causa das circunstâncias, mas por conta 
dos desdobramentos: as eleições já estavam marcadas. Todas as eleições 
que vêm de um governo autoritário são, por definição, ilegítimas? Se for 
assim, até *Tancredo Neves* poderia ser chamado de ilegítimo porque foi 
escolhido pelo *general Figueiredo*. Ou *Patricio Aylwin*, no Chile, 
*Vicente Fox*, no México, ou *Lech Walesa*, na Polônia. No entanto, 
ninguém se opôs a eles. São frutos de regimes ilegítimos que promoveram 
eleições. O argumento é estúpido. Como os americanos não pensaram bem, 
agora estão numa situação desconfortável.
 
*Qual sua impressão da secretária de Estado, Hillary Clinton, e de sua 
política para o continente?*
 
Não há muito a comentar. Ela não fez nada de muito bom ou ruim, mas 
confirmou o que pensávamos: que nunca teve interesse na região. Acho que 
o *Obama* ainda tem uma lua de mel pela frente nessa parte do mundo 
porque é inteligente, sofisticado. Ele tem uma grande reserva de boa 
vontade e esperança na America Latina.
 
*O senhor vê um momento em que a relação amistosa do governo brasileiro 
com governantes como Chávez, Ortega e Castro poderá trazer problemas 
para o Brasil?*
 
Depende do grau da esquizofrenia da política externa brasileira. Um país 
que quer ser um líder mundial com assento no Conselho de Segurança da 
ONU, que pretende ter mais peso no Banco Mundial, que desenha para si um 
papel decisivo na reunião de meio ambiente em *Copenhague*, pois bem, 
esse país vai ter que se conformar com certas responsabilidades. Não 
pode aparentar cumplicidade com radicais. Esse episódio da embaixada em 
Honduras é um desgaste. É coisa de república de banana. Ditador ou 
presidente deposto de Honduras deve se asilar num pequeno país 
centro-americano e não envolver um poder regional como o Brasil. Há um 
ano e meio fiz um discurso em Montevidéu que irritou muitos em Brasília. 
Disse que o Brasil é um pouco o oposto de Cuba e Israel. Eles são anões 
gigantes, porque têm um impacto internacional desproporcional a seu 
tamanho. E sugeri que o Brasil é um gigante que se comporta como um anão 
diplomático. O Brasil não gosta de tomar partido em disputas. Então, 
para quê lutar por um assento no Conselho de Segurança? Para ficar se 
abstendo, nas questões difíceis?
 
*Mas o Brasil é reconhecido também pela competência de seu corpo 
diplomático.*
 
Sim, concordo. Mas a maioria dos países importantes não escolhe 
diplomatas para ministro das Relações Exteriores. A França, a Alemanha 
ou os Estados Unidos escolhem os representantes entre pessoas que 
formulam a política externa. O serviço diplomático existe para 
executá-la. O que acontece quando o serviço diplomático articula a 
política externa é ele tentar ficar bem com todo mundo, evitar o confronto.
 
*O senhor escreveu um artigo sobre a necessidade de os latino-americanos 
confrontarem Hugo Chávez. A última edição online da revista "Newsweek" 
traz uma entrevista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao 
correspondente Mac Margolis, que o questionou sobre as restrições 
democráticas do regime de Hugo Chávez. Lula respondeu que não conhece 
nenhuma característica antidemocrática do governo venezuelano e concluiu 
que cada país deve estabelecer a democracia que lhe convém.*
 
Ao fazer uma declaração como essa, *Lula* contradiz tudo pelo que lutou 
nos anos 70 e 80. Porque a ditadura brasileira era uma "democracia 
especial", nas palavras do general *Golbery do Couto e Silva*, lembra? 
Pergunte ao *Raúl Castro* e ele dirá também que Cuba é uma democracia. 
Os regimes europeus orientais comunistas também eram "repúblicas 
democráticas". A democracia não é subjetiva, especialmente se falamos de 
tratados, como o *Mercosul*. O Brasil é signatário de vários tratados 
internacionais, que incluem a democracia como cláusula incondicional. 
Quando o *Lula* diz algo assim, ele esquece, por exemplo, o *Tratado de 
Ouro Preto*, que define claramente democracia. Eu perguntaria ao 
*presidente Lula*: e se um líder latino decidir que democracia exclui 
sindicatos e o direito à greve? A democracia não é uma abstração.
 
*O senhor diria que há diferentes nacionalismos em ascensão na America 
Latina?*
 
Acho que o Brasil, o Mexico, talvez a Argentina, passam por períodos de 
fervor nacionalista. Geralmente acontecem quando as coisas estão indo 
muito bem ou muito mal. É um procedimento normal. Não aplaudo nem me 
assusta.
 
*Estamos testemunhando uma miniguerra fria na América Latina?*
 
Sim, e nesse cenário, Honduras é um país pouco decisivo. Mas é 
importante para *Chávez* e Cuba. E mais ainda para *Ortega*. O que 
parece incompreensível para mim é: por que Chile, Brasil e México, 
Canadá e os Estados Unidos não conseguem estabelecer uma política que 
condene o golpe, mas seja diferente da de *Castro* e *Chávez*? Vai ser 
difícil chegar a um acordo porque *Chávez*, Cuba e *Ortega* não querem 
acordo. Eles querem o *Zelaya* de volta. Querem manter Honduras na 
aliança bolivariana da *Alba*.
 
*A instalação de bases americanas na Colômbia provocou forte reação dos 
vizinhos - em especial da Venezuela, que, por sua vez, anda negociando 
com russos e iranianos. Entramos num novo período geopolítico no 
continente?*
 
Não sabemos ainda o que é real e o que é retórica. *Chávez* é o clássico 
demagogo latino-americano. Nunca se pode acreditar muito nele. 
Venezuelanos gostam de fazer declarações bombásticas. Estamos falando de 
povos, venezuelanos, iranianos, russos, que usam a retórica de uma forma 
política, uma forma que é hábil, mas não sincera. Eu não ficaria 
preocupado especulando se *Chávez* comprou US$ 3 bilhões disso ou 
daquilo, um submarino a mais. Comprou mesmo? Nem tudo o que ele diz é fato.
 
*O ex-presidente Jimmy Carter teria a contribuir para o desfecho dessa 
crise?*
 
*Carter* não é muito bem talhado para a tarefa. Como mediador e 
negociador, ele não é especialmente eficaz. Mas com o *Carter Election 
Center*, ele teve um grande papel no monitoramento de eleições em todo o 
mundo. A não ser com o acordo de Camp David, quando era presidente, não 
tem uma história de mediações bem-sucedidas.
 
*Hoje , sexta-feira, 25 de setembro, o senhor imagina que a crise possa 
acabar em violência?*
 
Não acredito que possa haver violência geral, talvez incidentes na rua. 
Vão dar um jeito de fazer *Zelaya* sair e talvez apontar um presidente 
interino até a eleição, mantendo o calendário político.
 
*O presidente Lula, em Nova York, declarou: "Defendo para o Irã os 
mesmos direitos de acesso à energia nuclear que defendo para o Brasil. 
Se alguém tem vergonha de ter relações com o Irã, não é meu caso". Ao 
ser consultado sobre a insistência do presidente iraniano, Mahmoud 
Ahmadinejad, em negar o Holocausto, Lula respondeu: "Ele pensa 
diferente, não é problema meu".*
 
Imagine se o Brasil estivesse no Conselho de Segurança da ONU: teria 
votado a favor ou contra as três rodadas de sanções já existentes? Não 
dá para ter o melhor dos dois mundos. É natural que um presidente tenha 
que atender às pressões domésticas e há um esquerdismo retórico que 
compensa o PT pela política econômica conservadora. Mas não dá para 
levar a extremos. *Lula*, até o momento, tem sido muito cuidadoso ao não 
se identificar com a esquerda radical. Só que a esquerda radical está 
ficando mais radical e mais internacional.
 
*Se um líder europeu tivesse se referido a Ahmadinejad com as mesmas 
palavras, seria crucificado na imprensa ocidental. A falta de reação é 
sinal do papel menor do Brasil?*
 
Não estão prestando muita atenção à visão do Brasil nessa semana. Não só 
porque há uma grande agenda a ser enfrentada, mas porque o Brasil não é 
um líder mundial. E se quiser se tornar um, não pode abrigar *Manuel 
Zelaya*, nem ajudá-lo à insurreição.
 
*O senhor escreveu sobre luta armada na América Latina, sobre as 
revoluções e Che Guevara. Qual o livro que pede para ser escrito neste 
momento?*
 
Um livro que revisite a esquerda, 17 anos depois da utopia armada. 
Alguém deveria escrever esse livro e revisitar as questões em que errei 
e acertei. Estava certo em muitos aspectos, por exemplo, a luta armada 
estava no fim. Uma esquerda social-democrata se tornaria maioria. Isso 
até aconteceu com países como Brasil, Chile, Uruguai, mas por que o 
resto do continente não se reconstruiu nessa direção? Por que ainda há 
figuras como *Hugo Chávez*, *Evo Morales* e *Daniel Ortega* no poder? 
Por que as *Farc*? Por que o kirchnerismo, cujas posições são tão 
condenadas pelo mundo, menos na América Latina? Hoje, vejo que os países 
mais importantes estavam prontos para uma mudança na perspectiva 
democrática. Mas os menores foram em oura direção.
 
*Seu novo livro, "El Narco: La Guerra Fallida", escrito com Rubén 
Aguilar, faz duras críticas à guerra aos traficantes. Por quê?*
 
Porque o assunto se tornou importante demais. O governo mexicano só fala 
nisso. O país está obcecado. E também porque acredito que seja uma 
guerra baseada em premissas falsas. Como a de que o consumo de drogas 
cresceu. De acordo com pesquisas patrocinadas pelo próprio governo do 
México, mas não publicadas, o aumento do consumo foi marginal e menor do 
que em outros países. Outra premissa falsa: o aumento da violência. 
Vejamos: entre 1992 e 2006, o número de homicídios no México caiu 
sistematicamente. Chegou a ser de 10 assassinatos por 100 mil 
habitantes, índice mais baixo do que o do Brasil ou da Venezuela.
 
*Mas por que se fala tanto na explosão da violência no México?*
 
A mídia vê as impressões, eu analiso números. Realmente, presta-se mais 
atenção em vítimas decapitadas, do que em corpos deslizando 
silenciosamente nos rios. Mas estamos falando de 2006. Hoje a violência 
aumentou muito, justamente por conta da guerra que o presidente *Felipe 
Calderón* começou. Ele sentia que havia dúvidas sobre sua legitimidade 
política e tomou uma decisão: fazer a guerra contra o tráfico. Montou 
uma armadilha para si mesmo.
 
*Qual o papel americano numa solução para o tráfico de drogas?*
 
Não acho que os EUA tenham um papel decisivo no momento. Você conhece, 
entre as pessoas que frequenta socialmente aqui em Nova York, alguém 
defendendo a ideia de que o governo deva gastar mais no combate às 
drogas, do que com tantos outros problemas, como pobreza, educação, ids? 
É uma ideia absurda essa de que, se os americanos consumissem menos, 
haveria menos suprimento de drogas. Há 30 anos a demanda por drogas 
entre os americanos não diminui e não há razão para acreditar que essa 
tendência vai mudar. Trata-se de uma sociedade estável e uma porcentagem 
dela consome drogas. O problema é que, com a guerra aos cartéis, 
chegamos a um impasse: foram 700 execuções , só no mês de julho.
 
*O que o senhor propõe no livro?*
 
Primeiro, que o governo tenha uma política de atacar o efeito colateral 
do narcotráfico. É preciso combater sequestros e outros tipos de crimes 
que são subproduto do tráfico. Não adianta lançar uma guerra contra este 
ou aquele cartel. O presidente colombiano, *Álvaro Uribe*, conseguiu 
fazer isso no seu país. Diminuiu o número de sequestros, desmantelou 
grupos guerrilheiros e o suporte que permite a atividade. A outra 
sugestão que fazemos é a da descriminalização das drogas no México. É 
preciso retirar todo incentivo para a atividade ilegal.
 
*O senhor ainda pretende concorrer à presidência do México?*
 
Sim, mas só me lançaria como candidato se um dos partidos me aceitasse, 
já que é tarde demais para formar um partido a tempo de concorrer em 2012.