quarta-feira, 11 de maio de 2011

Descaminhos

BUJES, Maria Izabel Edelweiss. Descaminhos In COSTA, Marisa Vorraber. Caminhos Investigativos II. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.

Introdução
Descaminhos é um capítulo que trata de abordagens contemporâneas de pesquisa. A inspiração vem de Michel Foucault. Contrário à visão canônica de ciência ocidental: baconiana e cartesiana.
Infância como tema e como objeto
Criança é o ser em falta cujo outro é o adulto. Criança é vista sob o signo da diferença, vistas como desiguais, desprotegidas, exploradas e excluídas. Assim, justifica-se a tutela dos adultos. O adulto é visto como o ser completo, racional, equilibrado, produtivo.
Infância é vista como diferença passageira que será redimida pelo poder da educação. Para o poder público, a esperança da infância seria a inserção nos sistemas educacionais públicos. Esperava-se da escola infantil e das propostas pedagógicas a superação da ignorância e da opressão, além da consecução da equidade.
Caminhos investigativos não podem ser pensados em abstrato. A pesquisa se constitui na inquietação. As fissuras a levaram a procurar um novo campo teórico longe das certezas teóricas e de promessas redentoras.
Conviveu com as práticas de submissão, com o abandono para que desconfiasse dos ideais modernos de educação. Processo de desidealização da pedagogia.
Escolhas
Descobriu Michel Foucault, vigiar e punir.
Regimes de trabalho naturalizam a concepção de infância.
A produção de um saber garante o poder.
Descrevendo as táticas: as disciplinas em evidência
Escolhas teóricas organizam as possibilidades teóricas de nossa investigação. A modernidade criou uma mecânica de poder ao assenhorar-se do corpo humano nas fábricas, quartéis, escolas e prisões.
Objeto empírico de pesquisa: referenciais curriculares nacionais. Sugere que se ponham em marcha: vigilância, normalização e exame.
Os operadores disciplinares valem-se de técnicas minuciosas para controle do corpo, do tempo e de suas forças. Estruturação do espaço destinado a cada criança, codificação do tempo e outras estratégias exercidas incessantemente.
Na escola os indivíduos são construídos pela utilização de formas específicas de ação institucional com a finalidade de aumentar a eficácia das forças de dominação.
Definição de efeito em Deleuze: produto que se difunde e se expande sobre a superfície. Ele é co-presente e co-extensivo com sua própria causa.
O fim da utilização das técnicas disciplinares é, no limite, a internalização da disciplina (governamento), num processo de singularização.
O disciplinamento constitui instrumento por excelência de disseminação do código civilizado.
O disciplinamento, desenvolvido por Norbert Elias em o processo civilizador, constitui instrumento por excelência de disseminação do código civilizado. Não cabe então justificar o poder ou deplorar seus excessos, mas desmascará-lo onde quer que ele exerça, mostrar as formas que toma.
Qualquer ação sobre o corpo é uma ação sobre o corpo e sobre a alma, qualquer tecnologia política é produção do corpo, simultaneamente físico e moral. 28.
Alma: corpo oposto a si mesmo e juiz de suas ações. A internalização da disciplina torna cada um de nós o pastor de si mesmo.
Nos RCN estão previstos os efeitos na medida em que estão traçados os objetivos a serem alcançados e as referências para a avaliação da eficácia da ação educativa das instituições de educação infantil.
Borrar verdades últimas e inquestionáveis foi o percurso que desencaminhou a autora.
Conclusão: as ideias de desamparo da infância têm servido justificativa para intervenção educacional, direcionada para racionalidade e cidadania, que tem imperado no discurso pedagógico moderno.
O estatuto da dependência justifica a tutela. Filantropia é ortopedia moral. Experiências infantis se institucionalizam cada vez mais precocemente mediante a adoção de um referencial curricular.

terça-feira, 10 de maio de 2011

As reformas: perguntas historiográficas

Se a causa da Reforma Protestante (1517), como apontou Engels, foi a necessidade de reforma social, penúria material e o desenvolvimento do capitalismo, por que o movimento não se consolidou na Itália, como chamou atenção o historiador Jean Delumeau em seu texto As Reformas? Ademais, esse historiador chama a atenção para alguns fatos: o Papa Leão X, que excomungou Lutero, era filho de banqueiros e as mais influentes famílias de banqueiros do século XVI eram católicas. Jean Delumeau pergunta em seu livro se uma leitura materialista não seria reducionista a ponto de classificar a consciência dos reformadores como uma falsa consciência em nome de esquemas epistemológicos generalistas.
Um dos ditos pregadores sociais, Thomas Münzer, apresentado como tal por Ernest Bloch, levou a cabo seu movimento por razões econômicas, num disfarçado ateísmo ou tinha a consciência de que era impossível uma reforma da religião sem a reforma econômica? Atribuir a uma personagem do século XVI, massacrada em 1525, um modelo conceitual sociológico contemporâneo, não seria anacronismo?
Por outro lado, como não cair nas análises clássicas: 1. Visão protestante (a reforma é o resultado da corrupção do clero); 2. Visão de historiadores católicos (o movimento luterano prosperou graças à tentativa de príncipes alemães de aumentar suas rendas). Jean Delumeau destaca que as duas leituras não tem base empírica sólida. Para começar a leitura mais serena sobre o tema sugere o agnóstico Lucien Febvre. Para esse historiador, o movimento resulta de uma crise geral de consciência no século XVI, clímax de uma rebelião contra a religiosidade católica, muito pouco difundida teologicamente, inclusive entre os clérigos. Boa leitura.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Filosofia Moderna e diferença cultural

Um dos primeiros filósofos modernos a tratar da diferença cultural e relativizar o etnocentrismo europeu foi Michel de Montaigne, cético e humanista. Em sua obra Ensaios (1580), ao falar dos Canibais, termo que utilizou para tratar dos índios, destacou que um sábio não deve valer-se unicamente do senso comum, assim como fez Sócrates na antiguidade. Afirmou que os europeus, autoconsiderados civilizados, matavam-se uns aos outros durante as guerras de religião, ao mesmo tempo em que acusavam os nativos de outra terras de selvagens. Esse filósofo relatou que o testemunho de um homem rude e simples, pode ser mais fidedigno que o de um ilustrado, além do fato que os mais cultos, segundo Montaigne, tendem a aumentar os conhecimentos que, de fato, possuem.