quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

A Revolução dos Normalistas

O artigo (Cadernos de Pesquisa, 66, agosto 88), da antropóloga Mariza Corrêa (UNICAMP), trata da relação entre educadores e cientistas sociais organizadores em torno de uma rede estabalecida por Anísio Teixeira, a partir da década de 50. Segundo a autora, o bacharel, o normalista e o licenciado, tiveram importância na cena educacional brasileira, mas os grupo dos normalistas, representados por Anísio Teixeira é o que logrou maior influência na consolidação da tradição de pesquisa em ciências sociais.

2 comentários:

  1. A REVOLUÇÃO DOS NORMALISTAS

    Por Renato Lima de Aguiar – acadêmico do Programa de Mestrado em Educação da UCDB.

    A autora trata como observações preliminares necessárias para o entendimento do texto a “pré-história” da antropologia e a “pré-história” da educação. Inicia a análise do grupo de médicos-antropólogos que consideravam certos setores da população brasileira como objetos de estudos, considerando-os cidadãos por isso, sempre em favor do Estado, tentando responder a questão da nacionalidade, primeiro pela raça, depois pela cultura naturalizada. Esses peritos-médicos contribuíram para a antropologia “deixando seus métodos de observação e análise que utilizaram para definir os objetos até hoje privilegiados por essa disciplina (negros, loucos, criminosos, crianças e homossexuais) na sua linhagem urbana” (p. 16). E na educação, os professores foram influenciados a elaborar “modos de reproduzir observadores e analistas” (p. 16). Sendo da responsabilidade dos educadores a iniciação dos alunos aos trabalhos de campo, apontando a ligação entre a antropologia e a educação. Devendo aos alunos ser oportunizado o “fazer”, observar, investigar e refletir. Para que “aprendam a ver claro e a raciocinar sobre as realidades” (p.16). Situação compreendida pelo fato de que a Educação era tratada dentro de um departamento do Ministério da Saúde, até 1931.
    O artigo inicia apontando a entrada de Anízio Teixeira na cena educacional brasileira como marco na luta para a constituição de um aparato para a educação nacional, tendo como base uma visão que “vinha do norte (Estados Unidos)”, sob influência de John Dewey. Anízio Teixeira junto com Fernando de Azevedo é considerado signatário do Manifesto dos Pioneiros, que mais tarde levaria ao movimento Escolanovista. Os Normalista defendiam a escola para todos, uma escola pública heterogenia, para meninos e meninas, já que a escola normal, era uma escola secundária com propósito de formar professoras para o ensino primário, o que já vinha arraigado nos processos históricos de constituição da escola.
    Foi na década de 50 que redes de educadores e cientistas sociais começaram a ser criadas, sem o estabelecimento por laços de parentesco ou lealdade política (que ainda estavam presentes). Nessa mesma direção caminhavam os antropólogos brasileiros, que participavam ativamente de articulações políticas para a resolução de problemas nacionais, sendo também considerados “intelectuais burocráticos” o que causava descrédito nas produções. Assim, a autora aponta a necessidade da mudança de foco da procura por “um campo antropológico” nessa época, para a tentativa de “encontrá-la onde ela se praticava”, já que ainda não era um campo em construção.
    Outro ponto importante é o fato de o grupo que estava à frente do manifesto dos Pioneiros da Educação Nova não ser homogêneo, “nem todos pensavam da mesma maneira” e não tiveram o mesmo destino. Uns foram tratados como opositores da Igreja Católica e comunistas, outros saíram da educação e, ainda alguns se direcionaram totalmente a carreira política. Mas certo é que todos pertenciam a uma elite muito reduzida, a de dirigentes e que ainda hoje os pensamentos articulados nessa época estão presentes nas normas da vida social e nas atividades acadêmicas e que a escola pretendida na década de 30 pelos Normalistas com bases em preceitos médicos/científicos era eugênica/racista.
    A autora ainda trata das modificações ocorridas nas pesquisas das ciências sociais e na educação que de alguma forma não abordavam mais sistematicamente uma “sociedade nacional”. Recebendo esses trabalhos muitas críticas, por serem considerados estudos sobre as comunidades isolados e específicos.

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  2. IDENTIDADE ÉTNICA E PROCESSO ESCOLAR

    Por Renato Lima de Aguiar (mestrando em educação – UCDB)

    Lúcio Kreutz aborda a atuação da escola diante da diversidade cultural. Considerando que a sociedade está cruzada por oposições de classe, etnias, gênero e outras, tendo muitas vezes interesses contrapostos. Entendendo a escola como um local central para produção e reprodução da cultura, não sendo apenas mais um lugar em que os problemas étnicos se repetem. Nesse sentido trás a etnia como categoria de análise principal, e afirma que não é por isso que se opõe ou substitui outras, como classe ou gênero. Esse viés auxilia a ampliar a análise nos aspectos simbólicos e de vivências das relações humanas. Entendendo a etnia e a identidade étnica como processos, não como heranças já construídas ou naturalizadas, fixadas a partir de determinantes biológicos.
    O autor questiona o conceito multicultural, que se relaciona como um mosaico, formado por culturas estáticas, afirmando ser o conceito de interculturalidade o que mais se aproxima das relações dinâmicas de reacomodações e ajustes entre as culturas. Para Betancourt (1997 e 1994) e Geertz (1973) a cultura não significa uma esfera abstrata, mas um processo concreto pelo qual uma determinada comunidade humana organiza sua materialidade com base nos fins e valores a que se propõe. Estando por isso ligada a movimentos sociais, conflitos, instituições, linguagem e visão de mundo. E mesmo marginalizadas, são fontes de sentido e construção do real.
    Sendo assim, na escola o conhecimento baseado na racionalidade ocidental o valorizado, que observa a diferença a partir de uma determinada cultura, a autorizada, a que prega a monocultura. Tendo um papel fundamental na configuração da identidade nacional, excluindo os processos de identidade étnica. Estando a dificuldade em lidar com as questões étnicas historicamente colocadas no campo religioso, filosófico, político, educacional e científico. Tendo, por exemplo, o europeu, cristão-colonizador, tentado tornar os povos com culturas diferentes mais iguais a ele para colocá-los melhor a seu serviço. A escola, na perspectiva Iluminista cumpriu bem esse papel, já que o aluno é aluno e a escola é simplesmente a escola, a fim de ser laica e universalizante. Buscando a homogeneização, realizando movimento simultâneo de integração e exclusão ao descrever grupos, impor espaços, conferir a palavra ou negá-la.
    Numa outra perspectiva, a escola pode auxiliar na localização histórica em meios as relações de poder, privilégio e subordinação a que os alunos estão envolvidos, percebendo as especificidades étnico-culturais próprias, reconhecendo e distinguindo as especificidades de outros grupos, incentivando-os a um diálogo intercultural.
    Kreutz finaliza apontando como objetivo da escola levar a entender que o étnico sempre se constrói num processo de relação. E por isso não há critério para atribuir maior valor a uma determinada cultura, mesmo que no processo histórico concreto algumas culturas tenham conseguido impor-se como mais válidas que as outras (Silva, 1996. p. 193).

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