As fontes históricas para a
biografia da índia Mbicy e as contribuições indígenas para a história
brasileira são muitas, mas precárias em nosso modo de ver, pois a cultura tupi
era exclusivamente oral e, mesmo assim, o abáñeenga, a língua dos humanos,
tornou-se a língua comum, ñeendyba, mais utilizada no Brasil a ponto de ser
proibida pelo Marques de Pombal (1758). O tempo também era medido de modo
diferente. O tempo longo pela florada das plantas como o Bambu, o tempo curto
pela alternância das luas, o tempo maior pelas chuvas e posição das trovoadas,
o ciclo anual pelo movimento das constelações que anunciavam o inverno e pela
pesca anual da Tainha. Muitos historiadores, na tradição de Francisco Adolfo de
Varnhagen, acreditavam que somente as fontes escritas devem ter credibilidade,
mas os povos indígenas são capazes de guardar o nome de centenas de
antepassados, parentes, e fatos na memória, como bem contou Darcy Ribeiro. No
caso de Bartira, sua mãe Potyra, seu pai Tebireçá e seu marido João Ramalho, as
informações escritas foram registradas em cartas e estudos por pessoas como Luiz
Gonzaga da Silva Leme, Pero Correa, José de Anchieta, Diogo Jacome, Manoel de Chaves,
Azpilcueta Navarro e Manoel da Nóbrega. O primeiro relato é de Pero Correa
(20/06/1551): Bartira “é umas dessas (índias
doutrinadas) se achou a umas 10 légoas onde quiseram tratar mal nosso Padre e o
ameaçaram com um pau, e o ameaçador foi um homem que a 40 anos [João Ramalho]
está nesta terra e tem já bisnetos e sempre viveu em pecado mortal e anda
excomungado”. Vejam que o relacionamento de João Ramalho com os padres não era
amistoso e que a razão era a condenação moral de seu comportamento pelos jesuítas.
quinta-feira, 24 de janeiro de 2019
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