quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

BARTIRA


As fontes históricas para a biografia da índia Mbicy e as contribuições indígenas para a história brasileira são muitas, mas precárias em nosso modo de ver, pois a cultura tupi era exclusivamente oral e, mesmo assim, o abáñeenga, a língua dos humanos, tornou-se a língua comum, ñeendyba, mais utilizada no Brasil a ponto de ser proibida pelo Marques de Pombal (1758). O tempo também era medido de modo diferente. O tempo longo pela florada das plantas como o Bambu, o tempo curto pela alternância das luas, o tempo maior pelas chuvas e posição das trovoadas, o ciclo anual pelo movimento das constelações que anunciavam o inverno e pela pesca anual da Tainha. Muitos historiadores, na tradição de Francisco Adolfo de Varnhagen, acreditavam que somente as fontes escritas devem ter credibilidade, mas os povos indígenas são capazes de guardar o nome de centenas de antepassados, parentes, e fatos na memória, como bem contou Darcy Ribeiro. No caso de Bartira, sua mãe Potyra, seu pai Tebireçá e seu marido João Ramalho, as informações escritas foram registradas em cartas e estudos por pessoas como Luiz Gonzaga da Silva Leme, Pero Correa, José de Anchieta, Diogo Jacome, Manoel de Chaves, Azpilcueta Navarro e Manoel da Nóbrega. O primeiro relato é de Pero Correa (20/06/1551): Bartira “é umas dessas (índias doutrinadas) se achou a umas 10 légoas onde quiseram tratar mal nosso Padre e o ameaçaram com um pau, e o ameaçador foi um homem que a 40 anos [João Ramalho] está nesta terra e tem já bisnetos e sempre viveu em pecado mortal e anda excomungado”. Vejam que o relacionamento de João Ramalho com os padres não era amistoso e que a razão era a condenação moral de seu comportamento pelos jesuítas.

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