Botocudo foi a identidade genérica
atribuídas pelos colonizadores portugueses a vários grupos indígenas macro-jê
em diferentes regiões geográficas do Brasil. O termo decorre do fato de que a
maioria destes indivíduos usava botoques no lábio e nas orelhas.
A vinda da corte portuguesa
para o Brasil, em 1808, é um episódio importante no processo de formação do
Brasil independente e que impactou a história destes povos indígenas. O sistema
colonial passava por uma crise, gerada pelas guerras napoleônicas e ascensão do
liberalismo para os europeus e submissão para os americanos. D. João VI fugiu
de Portugal para o Brasil com a ideia de industrializar o Brasil. Um dos meios
que tentou implantar o seu projeto foi declarar guerra contra os índios
botocudos do rio Doce (Capitanias de Minas Gerais e Espírito Santo),
inaugurando assim a acusação que segue até hoje de que os índios são entraves
ao progresso do país e devem ser exterminados como se fossem pragas. A carta
régia de 13 de maio de 1808 legalizava sua captura e cativeiro por até dez anos
ou enquanto durasse a «fereza» e a «antropofagia», segundo a antropóloga
Manuela Carneiro da Cunha.
Os colonos, premiados pelo
rei que queria reconstruir seu império, receberam as terras dos Botocudos
escravizados. Os índios eram os pagãos castigados pelo Deus cristão pela sua
rebeldia contra os brancos. Os registros históricos apontam que Salvador Correa
de Sá, militar e poderoso proprietário de terras, localizou várias nações
tapuias nas imediações do Rio Doce em 1577, como Patachós, Apuraris e Puris,
onde construíam suas casas (tapuí) e faziam cauim.
Mais recentemente, recebemos
novas notícias de que os antigos tapuias do Rio Doce, agora conhecidos como Pataxó
Hãhãhãi, foram atacados por outra frente colonial, mais tóxica que aquelas do
império português. Os rejeitos da mineração barragem da Brumadinho, Minas
Gerais, obrigaram 25 famílias a deixarem a aldeia Naô Xohã, na tarde desta
sexta, 25, para a parte mais alta do município de São Joaquim de Bicas, área onde
vive a comunidade. Mais uma vez o Deus capital, agora conhecido como MMX
Mineração e Metálicos S.A, continua sua guerra aos índios, deixando o seguinte
recado: é este o modelo de desenvolvimento desejado para as terras indígenas
como prega o governo ? Segundo Eni Carajá, sua aldeia fica na margem do rio, de
onde tiram seu sustento. A lama já está muito perto de sua aldeia e pode
comprometer a subsistência.
A pequena área que estes
índios ocupam tem 30 hectares e é reclamada por uma mineradora que pertence ao
empresário Eike Batista. Há um ano e meio os
Pataxó Hã-hã-hãe ocuparam 30 hectares de terras. A área da aldeia evacuada é protegida
como reserva ambiental e está sob litígio, pois a propriedade está registrada
em nome do empresário Eike Batista. Mais um trecho da longa marcha de guerra levada
pelo Estado até os povos indígenas.
Iconografia: Combate de Botocudos
em Mogi das Cruzes, quadro de Oscar Pereira da Silva, acervo do Museu Paulista
da USP.
Fontes: ISA, CIMI, WIKIPEDIA, MOREIRA (2010).
Nenhum comentário:
Postar um comentário