quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

BOTOCUDO


Botocudo foi a identidade genérica atribuídas pelos colonizadores portugueses a vários grupos indígenas macro-jê em diferentes regiões geográficas do Brasil. O termo decorre do fato de que a maioria destes indivíduos usava botoques no lábio e nas orelhas.
A vinda da corte portuguesa para o Brasil, em 1808, é um episódio importante no processo de formação do Brasil independente e que impactou a história destes povos indígenas. O sistema colonial passava por uma crise, gerada pelas guerras napoleônicas e ascensão do liberalismo para os europeus e submissão para os americanos. D. João VI fugiu de Portugal para o Brasil com a ideia de industrializar o Brasil. Um dos meios que tentou implantar o seu projeto foi declarar guerra contra os índios botocudos do rio Doce (Capitanias de Minas Gerais e Espírito Santo), inaugurando assim a acusação que segue até hoje de que os índios são entraves ao progresso do país e devem ser exterminados como se fossem pragas. A carta régia de 13 de maio de 1808 legalizava sua captura e cativeiro por até dez anos ou enquanto durasse a «fereza» e a «antropofagia», segundo a antropóloga Manuela Carneiro da Cunha.
Os colonos, premiados pelo rei que queria reconstruir seu império, receberam as terras dos Botocudos escravizados. Os índios eram os pagãos castigados pelo Deus cristão pela sua rebeldia contra os brancos. Os registros históricos apontam que Salvador Correa de Sá, militar e poderoso proprietário de terras, localizou várias nações tapuias nas imediações do Rio Doce em 1577, como Patachós, Apuraris e Puris, onde construíam suas casas (tapuí) e faziam cauim.
Mais recentemente, recebemos novas notícias de que os antigos tapuias do Rio Doce, agora conhecidos como Pataxó Hãhãhãi, foram atacados por outra frente colonial, mais tóxica que aquelas do império português. Os rejeitos da mineração barragem da Brumadinho, Minas Gerais, obrigaram 25 famílias a deixarem a aldeia Naô Xohã, na tarde desta sexta, 25, para a parte mais alta do município de São Joaquim de Bicas, área onde vive a comunidade. Mais uma vez o Deus capital, agora conhecido como MMX Mineração e Metálicos S.A, continua sua guerra aos índios, deixando o seguinte recado: é este o modelo de desenvolvimento desejado para as terras indígenas como prega o governo ? Segundo Eni Carajá, sua aldeia fica na margem do rio, de onde tiram seu sustento. A lama já está muito perto de sua aldeia e pode comprometer a subsistência.
A pequena área que estes índios ocupam tem 30 hectares e é reclamada por uma mineradora que pertence ao empresário Eike Batista. Há um ano e meio os Pataxó Hã-hã-hãe ocuparam 30 hectares de terras. A área da aldeia evacuada é protegida como reserva ambiental e está sob litígio, pois a propriedade está registrada em nome do empresário Eike Batista. Mais um trecho da longa marcha de guerra levada pelo Estado até os povos indígenas.

Iconografia: Combate de Botocudos em Mogi das Cruzes, quadro de Oscar Pereira da Silva, acervo do Museu Paulista da USP.
Fontes: ISA, CIMI, WIKIPEDIA, MOREIRA (2010).

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