A memória da tupiniquim Isabel
Dias foi o tema escolhido para a aniversário de São Paulo: 25 de janeiro de
1554. Isabel Dias nome português dado em batismo à índia Bartira, flor de que
desabrochará, lembra a fundação e os métodos do Colégio Jesuíta para converter
os índios, combatendo seus costumes na tentativa de transformá-los em
mão-de-obra para as fazendas e soldados na guerra contra os inimigos. A
construção é chamada de marco zero da cidade no planalto de Piratininga foi o
ponto de partida para era ampliar as fronteiras, escravizando mais índios de
outras aldeias e explorando as riquezas fabulosas do interior. Eram outros
tempos, na verdade, época em que os índios eram acusados de bárbaros, indolentes
e sem religião poderiam ser despidos de seus bens, “zerados” em seus costumes,
reduzidos em sua mobilidade e território e, acusados de seguidores do Diabo, padecer
na terra de todos os tormentos até se tornarem cristãos obedientes, súditos
dedicados e aliados dos projetos de sua própria conquista. Bartira e seus
parentes foram arrastados e confinados para o interior do pátio num enredo que
está expresso na escultura “O Evangelho na Selva” que adorna o interior do
Pátio do Colégio em São Paulo. Esta escultura a representa curvada, com as mãos
piedosas recolhidas no peito em sinal de conversão e o missionário em pé na
posição de quem ensina. Ela ouve, o missionário fala. Se Bartira falasse,
certamente contaria outra história. As vilas portuguesas que colonizaram o
Brasil não foram o marco zero, pois João Ramalho, português, foi integrado ao
grupo de Tibiriça, “Tevireçá”, o cacique que tinha olhos das nádegas, pelo
casamento-aliança com sua filha. Ramalho está para Tibiriçá assim como Caramuru
está para Taparica. Em torno do local de Tibiriçá foi erguido o primeiro
aldeamento da região, constituído em bases tupi e novos arranjos políticos numa
relação primeiro de igualdade e depois de subordinação. A aliança com os índios
é que permitiu formalizar a presença portuguesa e a intromissão na lógica da
inimizade indígena foi o mecanismo para conseguir mais escravos, fomentando as
guerras. Não fosse Bartira, Cauiby, Tibiriçá e outros “principais”,
chefes-sogro capazes de agregar muitos genros na paz e na guerra, a vila de
Piratininga jamais teria sido fundada e nem resistiria aos ataques sofridos. A
ilustração abaixo propõe três alternativas históricas de marco zero para São
Paulo: Inhapuambuçu-São Paulo (Cacique Tibiriçá), Ururay-São Miguel (Cacique Piqueroby)
e Jerubatuba-Santo Amaro (Cacique Caiuby). Com informações de: ANJOS, Ana
Cristina Chagas dos. Diálogos entre Patrimônio, Meio ambiente e Aprendizagem.
Tese de Doutorado. USP, São Paulo: 2016.
quinta-feira, 24 de janeiro de 2019
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