A onça-avó, Jagwaretê
Jari, e os parentes dela adotaram o Sol, Pa’ikuara, e a Lua, Jasy,
mas o papagaio, Parakau, denunciou as onças como os assassinos da mãe
dos gêmeos. Por isso, os meninos castigaram as onças.
São antigas e conhecidas as histórias das onças como feiticeiros
inimigos dos homens. O ancião guarani Teodoro de Souza, da Aldeia Jata’yvary,
em Ponta Porã (MS) contou que a primeira onça, Jaguaretê Ypy, queria mandar nos homens e pediu a Nhandejara para ser três vezes mais
poderosa. O criador propôs um desafio: vá até aquela mata onde o homem lasca
madeira e duele com ele. Se conseguir vencê-lo, concederei o que desejas. A
onça correu até lá, mas, enganada pelo homem que prendeu suas patas dianteiras no
de uma árvora recém-rachada, levou uma surra tão grande que sua pele ficou toda
pintada até hoje.
A inimizade entre os dois vem de longa data, pois quando os
gêmeos descobriram que as onças haviam devorado sua mãe, planejaram um plano
para atraí-las a uma armadilha num campo de guavira do outro lado do rio. As onças
haviam gostado muito da fruta apresentada pelos meninos e decidiram buscar mais
no dia seguinte.
Os meninos acordaram cedo, levaram flechas e com elas
fizeram uma ponte sobre o rio para as onças chegar ao campo das guaviras. Os
gêmeos focaram aguardando as onças chegar e começar a cruzar a ponte, mas o rio
se alargava magicamente enquanto estavam sobre a ponte, conforme o conselho do
Papagaio. Quando as onças estivessem no meio do rio, retiraram as flechas para
que caíssem na água, mas uma que estava grávida conseguiu saltar e chegar ao
barranco. Esta onça é o antepassado de todas as que vivem até hoje, pois foi
transformada pelos gêmeos que brilharam para ela, transformando-a de gente em
animal.
As onças que caíram na água deram origem aos monstros
aquáticos, após os gêmeos brilharem como um relâmpago, ára verá, diante delas. Como já era tarde, os gêmeos dormiram alí
mesmo, mas foram acordados por volta da meia noite com o barulho de um animal.
A lua perguntou: que animal é este? E o sol respondeu: este o cachorro-onça, jaguaretê. Desde então a onça é
conhecida por este nome. Esta onça que estava grávida, teve um filhote macho e
que deu origem às onças atuais.
Os gêmeos permaneceram alí, mas lembraram que a onça-avó
havia permanecido na sua casa e pensavam o que fariam com ela. Tiveram a ideia
de fazer um mundéu bem grande e pesado e armá-lo com um sabugo. Depois pediram
à avó das onças para verificá-lo. Chegando lá, o sol disse que para arrumar o
mundéu precisava entrar embaixo dele e a onça assim o fez. Quando ia entrando,
a armadilha desarmou, caiu sobre a onça-avó e a matou.
Neste mesmo lugar, os gêmeos criaram o animal chamado Paca,
Jaichá, também chamado de Akutipáy.
Eles fizeram a paca da velha onça e ficaram contentes quando o animal caiu na
armadilha. Depois de criada a paca, os meninos iniciaram a sua jornada em busca
do pai, Nhanderu, até o sol nascente,
Pa’i ambá.
REFERÊNCIAS E FONTES:
AQUINO, João. Mito
dos Gêmeos. Tradução de João Aniceto. Compilado por Wilson
Galhego Garcia. Araçatuba: Faculdade de Odontologia, 1975.
NOTAS:
1. Pesquisa e organização: Neimar Machado de Sousa, doutor
em história da educação pela UFSCar e pesquisador na FAIND/UFGD. Karai
Nhanderovaigua. E-mail: neimar.machado.sousa@gmail.com
2. O artigo tem finalidade educacional e formato adaptado às
mídias sociais.
3. A grafia adotada para as palavras tupi e guarani seguem a forma das
fontes consultadas, acrescidas de acentuação para facilitar a pronúncia.
4. Metadados: tyke’y,
tyvyra, monde, nhandesy, kuarahy, jasy, jaguaretê jari. Imagens: Guarani e
Kaiowá de amambai, Professores. Pa’ikuara
ha Jasy Oikohague. Amambai, 2012.
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