quarta-feira, 24 de abril de 2019

A MÃE NATUREZA SERÁ LIVRE !


Começou ontem (24) em Brasília o Acampamento Terra Livre 2019 com uma coletiva de imprensa das lideranças indígenas. A primeira marcha da noite foi para levar ao STF o protesto contra o Marco Temporal.

De acordo com a coordenação do Acampamento Terra Livre, o encontro já ocorre há 15 anos em Brasília, sendo considerado uma Assembleia Nacional dos Povos Indígenas. Este encontro pinta Brasília de urucum e jenipapo ao som do clamor pelos direitos.
Além das manifestações daqueles que estão em Brasília, há também movimentações em muitas aldeias pelo interior do país. Na manhã de ontem (24), na Aldeia Lima Campo, em Ponta Porã (MS), o cacique Teodoro Guarani lembrava seus parentes apertados no salão da comunidade que a terra está sendo envenenada pela cobiça dos homens e que a sobrevivência do seu povo está ameaçada pela violência física e cortes no orçamento que humilham as 94 famílias que sobrevivem em sua aldeia, negando-lhes as condições mínimas de sobrevivência digna.
Para tentar fazer frente aos perigos que atentam contra os povos indígenas e a mãe-terra, muitas lideranças marcharam até Brasília numa tentativa de diálogo com o Estado brasileiro que se nega a reconhecer os direitos originários previstos na Constituição Federal de 1988 como saúde, educação diferenciada e o usufruto de seus territórios.
Os coordenadores do evento destacaram na coletiva de imprensa que já chegaram mais de três mil mulheres, crianças, anciãos e lideranças indígenas em Brasília. Foram direto de suas aldeias e instalaram o primeiro acampamento no segundo quadrante da esplanada dos ministérios em frente ao Congresso. Após negociação com os militares, o Acampamento, temeroso da segurança dos partipantes, resolveu mudar o local para a Praça do Ipês, a partir de onde desenvolverão sua programação e pautas.
“Os guerreiros estão de pé”, destacou Sônia Guajajara, “estão de pé e não se curvarão diante de governo autoritário ou políticas fascistas que querem impedir os índios de chegarem à capital do país”. Os índios ainda estão em pé, mesmo após a ditadura que exterminou mais de oito mil deles. Destacam a medida provisória 870 que desmontou a estrutura de Estado e toda a política indigenista sem surpreendê-los, pois o presidente já afirmava em sua campanha que acabaria com o ativismo no Brasil e não concederia nenhum centímetro de terra aos povos oringinários.
Este ano, o contexto é de intimidação aos povos indígenas com a permissão do Ministério da Justiça ao permitir a ação da força nacional. Os índios que estão em Brasília falam em nome daqueles que têm suas terras invadidas pelas hidrelétricas, madeireiras e especulação imobiliária. O governo faz acordos com estes setores para atender o capitalismo.
“O governo aposta no confronto e traz para seu governo alguns índios com o objetivo de integrá-los à sociedade mediante seu exterminínio”, afirma Sônia Guajajara. Para ela, o governo quer adotar um padrão único de cultura para a sociedade brasileira. O acampamento precisa ser a voz daqueles que estão nas matas e que se recusam a fazer parte deste modelo de sociedade. Esta é a responsabilidade das lideranças indígenas em defender os demais povos que ainda não tem ideia do tamanho da ameaça que pesa sobre o futuro de todos os povos originários.
O discurso de integração é a justificativa para que as terras indígenas sejam engregues aos interesses estrangeiros para a exploração dos recursos naturais. Não lutam somente pelos direitos legais, mas pela própria existência, afirma Eliseu Lopes Kaiowá de Mato Grosso do Sul. A retirada das demarcações do Ministério da Justiça mostra que aos povos indigenas é negada a dignidade. Não são apenas os direitos entregues, mas a vida dos povos indígenas entregue ao agronegócio que controla a política e a economia do país, sem importar-se com a vida de ninguém ao envenená-los, reforça Eliseu Kaiowá. Quanto vale a vida da mãe-terra, perguntam os coordenadores do evento.

REFERÊNCIAS E FONTES:
APIB. Coletiva de Imprensa. Brasília, 2019.

NOTAS:
1. Pesquisa e organização: Neimar Machado de Sousa, doutor em história da educação pela UFSCar e pesquisador na FAIND/UFGD. Karaí Nhanderovaigua. E-mail: neimar.machado.sousa@gmail.com
2. O artigo tem finalidade educacional e formato adaptado às mídias sociais.
3. Metadados: ATL, Direitos Indígenas. Imagens: Assembleia Terena/Mídia Ninja. ATL. Brasília, 2019.


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