Começou ontem (24) em Brasília o Acampamento Terra Livre
2019 com uma coletiva de imprensa das lideranças indígenas. A primeira marcha da
noite foi para levar ao STF o protesto contra o Marco Temporal.
De acordo com a coordenação do Acampamento Terra Livre, o
encontro já ocorre há 15 anos em Brasília, sendo considerado uma Assembleia
Nacional dos Povos Indígenas. Este encontro pinta Brasília de urucum e jenipapo
ao som do clamor pelos direitos.
Além das manifestações daqueles que estão em Brasília, há
também movimentações em muitas aldeias pelo interior do país. Na manhã de ontem
(24), na Aldeia Lima Campo, em Ponta Porã (MS), o cacique Teodoro Guarani lembrava
seus parentes apertados no salão da comunidade que a terra está sendo
envenenada pela cobiça dos homens e que a sobrevivência do seu povo está
ameaçada pela violência física e cortes no orçamento que humilham as 94
famílias que sobrevivem em sua aldeia, negando-lhes as condições mínimas de
sobrevivência digna.
Para tentar fazer frente aos perigos que atentam contra os
povos indígenas e a mãe-terra, muitas lideranças marcharam até Brasília numa
tentativa de diálogo com o Estado brasileiro que se nega a reconhecer os
direitos originários previstos na Constituição Federal de 1988 como saúde,
educação diferenciada e o usufruto de seus territórios.
Os coordenadores do evento destacaram na coletiva de
imprensa que já chegaram mais de três mil mulheres, crianças, anciãos e
lideranças indígenas em Brasília. Foram direto de suas aldeias e instalaram o primeiro
acampamento no segundo quadrante da esplanada dos ministérios em frente ao
Congresso. Após negociação com os militares, o Acampamento, temeroso da
segurança dos partipantes, resolveu mudar o local para a Praça do Ipês, a
partir de onde desenvolverão sua programação e pautas.
“Os guerreiros estão de pé”, destacou Sônia Guajajara, “estão
de pé e não se curvarão diante de governo autoritário ou políticas fascistas
que querem impedir os índios de chegarem à capital do país”. Os índios ainda
estão em pé, mesmo após a ditadura que exterminou mais de oito mil deles. Destacam
a medida provisória 870 que desmontou a estrutura de Estado e toda a política indigenista
sem surpreendê-los, pois o presidente já afirmava em sua campanha que acabaria
com o ativismo no Brasil e não concederia nenhum centímetro de terra aos povos oringinários.
Este ano, o contexto é de intimidação aos povos indígenas
com a permissão do Ministério da Justiça ao permitir a ação da força nacional.
Os índios que estão em Brasília falam em nome daqueles que têm suas terras
invadidas pelas hidrelétricas, madeireiras e especulação imobiliária. O governo
faz acordos com estes setores para atender o capitalismo.
“O governo aposta no confronto e traz para seu governo
alguns índios com o objetivo de integrá-los à sociedade mediante seu
exterminínio”, afirma Sônia Guajajara. Para ela, o governo quer adotar um
padrão único de cultura para a sociedade brasileira. O acampamento precisa ser a
voz daqueles que estão nas matas e que se recusam a fazer parte deste modelo de
sociedade. Esta é a responsabilidade das lideranças indígenas em defender os
demais povos que ainda não tem ideia do tamanho da ameaça que pesa sobre o futuro
de todos os povos originários.
O discurso de integração é a justificativa para que as
terras indígenas sejam engregues aos interesses estrangeiros para a exploração
dos recursos naturais. Não lutam somente pelos direitos legais, mas pela própria
existência, afirma Eliseu Lopes Kaiowá de Mato Grosso do Sul. A retirada das
demarcações do Ministério da Justiça mostra que aos povos indigenas é negada a
dignidade. Não são apenas os direitos entregues, mas a vida dos povos indígenas
entregue ao agronegócio que controla a política e a economia do país, sem
importar-se com a vida de ninguém ao envenená-los, reforça Eliseu Kaiowá.
Quanto vale a vida da mãe-terra, perguntam os coordenadores do evento.
REFERÊNCIAS E FONTES:
APIB. Coletiva
de Imprensa. Brasília, 2019.
NOTAS:
1. Pesquisa e organização: Neimar Machado de Sousa, doutor
em história da educação pela UFSCar e pesquisador na FAIND/UFGD. Karaí
Nhanderovaigua. E-mail: neimar.machado.sousa@gmail.com
2. O artigo tem finalidade educacional e formato adaptado às
mídias sociais.
3. Metadados: ATL,
Direitos Indígenas. Imagens: Assembleia
Terena/Mídia Ninja. ATL. Brasília, 2019.
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