Kavure'i é uma
pequena ave de grande significado no modo de sentir, avaliar e trabalhar do
povo guarani. Kavur era o nome de um sábio nativo da primeira terra, Yvy Tenondé.
Este sábio indígena foi um herói cultural da legendária
terra primeira, yvy tenonde. Era reconhecido
como sábio, poeta, adivinho e médico que gozava de grande aceitação em toda a
Bacia do Prata, mas sua reputação ia muito além dela. Sua presença gerava
grande respeito e magnetismo.
Como cacique tinha grande domínio sobre várias tribos, sendo
repeitado pelos demais chefes. Suas orientações eram transmitidas apenas com o
olhar. Viveu antes do descobrimento do fogo. Seu trabalho era ensinar ténicas
para a humanidade, que ainda não conhecia o fogo. Um de seus ensinamentos foi a
receita do chipa kavuré, uma massa
de polvilho de raízes silvestres com gordura vegetal e sais encontradas na
região. Esta massa era cozida sobre uma pedra sob o sol, enquanto uma parente
Terenoé, mestra, ensinou a fezer o tereré, bebida popular até hoje e que só
requer água fria.
Após a descoberta do fogo, um sábio guarani, Tumé Arandu, quis ensinar outras
técnicas e expulsou Kavur, como normalmente ocorre. No entanto Kavur não foi
muito longe, continou aparecendo, reunindo pessoas e planejando uma vingança.
De vez em quando é visto, silencioso, reunindo hipnoticamente os caciques para depois
devorar um deles e se transformar novamente em ave, o kavure’i, caburezinho que vive nos campos.
O caburezinho, quando está com fome, vai para o alto das
árvores, canta e atrai outros pássaros. Depois come a carne de um deles. Além
disso, está associado a muitas crenças populares relacionadas à conquista
amorosa. É muito difundida a crença de que quem carrega uma das duas moscas que
vive sob suas asas tem sorte no amor, tornando-se atraente para homens e
mulheres.
O caburezinho não deve ser usado em remédios para crianças,
pois ao crescerem não serão bons esposos e esposas, segundo a crença popular.
KAVURE’I REHEGUA
Kavure’i
ningo peteĩ guyra. Ha’e ningo oguereko ojehe hetépe peteĩ mba’e kuaa oheñói
haguã guyra’i. Kavure’i hembi’u katu ambue guyra’i ro’o.
Ha
upéicha guyra apytépe oĩ va’erã peteĩ guyra ha’e hembi’urã voi. Ko guyra ha’e
oipyhy va’erã ha ogueraha ho’u haguã.
Kavure’i
ningo oguereko mokõi ipepoguy mberu. Ha mberu jaipyhy va’erã ha’e omano mboyve.
Omano rirema, jaheka ramo mo’ãi nderetopaveíma.
Upéagui
kavure’i jajapi ramo vodokepe, pya’e voi, jaheka va’erã imberukue
reiporusetáramo.
Ha
oĩ máva katu oipe’a imberukue ha ñakarangue ha upéicha oiporu ha oipyhy haguãma
ka’avo kuña rehe. Umi tujáma voi ojapo upéicha oiporu haguã kuña kuéra ndive.
Ha
upeágui yma rupi oiporu kavure’i ka’avojarã. Ko mberu iporã avei
ka’avojarã. Ha’e avei oipyhy kuñape. Ndaha’ei kuñape, ko mberu ombopaje entero
mba’epe voi. Ombopaje mitã kuérape, kuña kuérape ha umi kuimba’épe avei
Ha
upéagui, yma, mitã noipohãnói kavure’ípe. Mitã kuimba’e oipohãno ramo, omenda
rire ndoiko porãi haguã hembireko ndive. Ha mitãkuña katu ndoiko porãi ména
ndive.
REFERÊNCIAS E FONTES:
Assis, Cecy
Fernandes de. Mombe’u. São Paulo:
Blogger, 2006.
SCHADEN, Egon. Aspectos
Fundamentais da Cultura Guarani. São
Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1962.
SOUZA, Édina. Kavure’i.
Dourados, 2019.
TOMÁS L. MICÓ. Aves
en la Mitología Guaraní. Asunción: Obras de Instituto Paraguayo de Ciencia
del Hombre y Editorial Servilibro, 2001.
notas:
1. Pesquisa, organização e tradução: Neimar Machado de
Sousa, doutor em história da educação pela UFSCar e pesquisador na FAIND/UFGD.
Karaí Nhanderovaigua. E-mail: neimar.machado.sousa@gmail.com
2. A grafia adotada para as palavras tupi e guarani seguem a
forma adotada pelas fontes consultadas, acrescidas de acentuação para facilitar
a pronúncia.
3. O artigo tem finalidade educacional e formato adaptado às
mídias sociais.
4. Metadados: Kavure’i,
caburezinho, yvy tenondé. Imagens:
JAKOBS, Sky. Glaucidium brasilianum.
Wikipédia, 2009;
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