terça-feira, 16 de abril de 2019

KAVURE’I: O CABUREZINHO.



Kavure'i é uma pequena ave de grande significado no modo de sentir, avaliar e trabalhar do povo guarani. Kavur era o nome de um sábio nativo da primeira terra, Yvy Tenondé.
Este sábio indígena foi um herói cultural da legendária terra primeira, yvy tenonde. Era reconhecido como sábio, poeta, adivinho e médico que gozava de grande aceitação em toda a Bacia do Prata, mas sua reputação ia muito além dela. Sua presença gerava grande respeito e magnetismo.
Como cacique tinha grande domínio sobre várias tribos, sendo repeitado pelos demais chefes. Suas orientações eram transmitidas apenas com o olhar. Viveu antes do descobrimento do fogo. Seu trabalho era ensinar ténicas para a humanidade, que ainda não conhecia o fogo. Um de seus ensinamentos foi a receita do chipa kavuré, uma massa de polvilho de raízes silvestres com gordura vegetal e sais encontradas na região. Esta massa era cozida sobre uma pedra sob o sol, enquanto uma parente Terenoé, mestra, ensinou a fezer o tereré, bebida popular até hoje e que só requer água fria.
Após a descoberta do fogo, um sábio guarani, Tumé Arandu, quis ensinar outras técnicas e expulsou Kavur, como normalmente ocorre. No entanto Kavur não foi muito longe, continou aparecendo, reunindo pessoas e planejando uma vingança. De vez em quando é visto, silencioso, reunindo hipnoticamente os caciques para depois devorar um deles e se transformar novamente em ave, o kavure’i, caburezinho que vive nos campos.
O caburezinho, quando está com fome, vai para o alto das árvores, canta e atrai outros pássaros. Depois come a carne de um deles. Além disso, está associado a muitas crenças populares relacionadas à conquista amorosa. É muito difundida a crença de que quem carrega uma das duas moscas que vive sob suas asas tem sorte no amor, tornando-se atraente para homens e mulheres.
O caburezinho não deve ser usado em remédios para crianças, pois ao crescerem não serão bons esposos e esposas, segundo a crença popular.

KAVURE’I REHEGUA
Kavure’i ningo peteĩ guyra. Ha’e ningo oguereko ojehe hetépe peteĩ mba’e kuaa oheñói haguã guyra’i. Kavure’i hembi’u katu ambue guyra’i ro’o. 
Ha upéicha guyra apytépe oĩ va’erã peteĩ guyra ha’e hembi’urã voi. Ko guyra ha’e oipyhy va’erã ha ogueraha ho’u haguã.
Kavure’i ningo oguereko mokõi ipepoguy mberu. Ha mberu jaipyhy va’erã ha’e omano mboyve. Omano rirema, jaheka ramo mo’ãi nderetopaveíma.
Upéagui kavure’i jajapi ramo vodokepe, pya’e voi, jaheka va’erã imberukue reiporusetáramo.
Ha oĩ máva katu oipe’a imberukue ha ñakarangue ha upéicha oiporu ha oipyhy haguãma ka’avo kuña rehe. Umi tujáma voi ojapo upéicha oiporu haguã kuña kuéra ndive.
Ha upeágui yma rupi oiporu kavure’i ka’avojarã. Ko mberu iporã avei ka’avojarã. Ha’e avei oipyhy kuñape. Ndaha’ei kuñape, ko mberu ombopaje entero mba’epe voi. Ombopaje mitã kuérape, kuña kuérape ha umi kuimba’épe avei
Ha upéagui, yma, mitã noipohãnói kavure’ípe. Mitã kuimba’e oipohãno ramo, omenda rire ndoiko porãi haguã hembireko ndive. Ha mitãkuña katu ndoiko porãi ména ndive.


REFERÊNCIAS E FONTES:
Assis, Cecy Fernandes de. Mombe’u. São Paulo: Blogger, 2006.
SCHADEN, Egon. Aspectos Fundamentais da Cultura Guarani. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1962.
SOUZA, Édina. Kavure’i. Dourados, 2019.
TOMÁS L. MICÓ. Aves en la Mitología Guaraní. Asunción: Obras de Instituto Paraguayo de Ciencia del Hombre y Editorial Servilibro, 2001.

notas:
1. Pesquisa, organização e tradução: Neimar Machado de Sousa, doutor em história da educação pela UFSCar e pesquisador na FAIND/UFGD. Karaí Nhanderovaigua. E-mail: neimar.machado.sousa@gmail.com
2. A grafia adotada para as palavras tupi e guarani seguem a forma adotada pelas fontes consultadas, acrescidas de acentuação para facilitar a pronúncia.
3. O artigo tem finalidade educacional e formato adaptado às mídias sociais.
4. Metadados: Kavure’i, caburezinho, yvy tenondé. Imagens: JAKOBS, Sky. Glaucidium brasilianum. Wikipédia, 2009;

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